Edição: 83
Neoliberais defendem a elevação da taxa básica de juros, no caso brasileiro a SELIC, como meio para reduzir a inflação. Em teoria, elevando-se a taxa encolhe-se o crédito, incentiva-se a poupança e, com volume restrito de dinheiro, contém-se o consumo. Consumo menor, pressão menor sobre os preços. O efeito da elevação da taxa não é imediato. Para alguns, alcança a economia, de fato, em período de seis meses a um ano. O mais recente caminho de alta da SELIC se iniciou em abril de 2013, corrigindo-a a 7,5% em relação a março, 7,25%. Taxa elevada sem efeito, pois a variação de preços acompanhou por três anos e resiste, à exceção dos últimos meses.

Atividade em queda, desemprego em alta

A inflação brasileira não é de demanda, daí o questionamento à elevação da SELIC que teria por fim exatamente a contenção da demanda. Pesam no IPCA preços de tarifas e de serviços, nenhum deles incomodado pelos juros. A economia brasileira encara recessão das bravas: o Produto Interno Bruto se contraiu 3,8% em 2015 e estima-se queda de 3,2% para 2016. Em verdade, busca-se um efeito adicional da política monetária, também conhecido como desemprego. O Comitê de Política Monetária (COPOM), dono da SELIC, trata desemprego como “processo contínuo de distensão no mercado de trabalho”. Em junho de 2016, a “distensão” representada por 11,6 milhões de pessoas buscando emprego não se mostrava suficiente para reverter a marcha à contenção econômica.

Recordista mundial

Taxa básica de juros em 14,25% e expectativa de inflação em torno de 7% para 2016 é ganho real de 6,8% em operações financeiras ancoradas na SELIC. Para Ladislau Dowbor, doutor em economia pela Universidade de Lausannes, Suíça, a economia brasileira se “financeirizou”: “os bancos não investem, porque investimento é diferente de aplicação financeira. Investimento significa construção de estradas, fábricas etc. Aplicação financeira é quando se compram papéis sem produzir um sapato a mais no país”. Do capital não é exigido passaporte. É a velha arbitragem. Toma-se emprestado lá fora a taxas baixíssimas e se aplica aqui a juros polpudos. Entre BRICS e América Latina, o Brasil só tem taxa básica menor que a Argentina, mas nosso vizinho tem inflação muito maior.

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