A Caixa anunciou no último dia 10 que os próximos ocupantes das vice-presidências da empresa serão escolhidos em processo seletivo externo, coordenado por consultoria privada. O processo, que poderá contar com a participação de funcionários de carreira, tem como foco trazer “quadros” do setor privado ou “mercado” para a direção.

A justificativa para o modelo segue a mesma de iniciativas anteriores, como a tentativa de transformar a Caixa em S.A: que vai modernizar a gestão, a governança, a transparência… Os argumentos dos representantes do governo no CA desmerecem a evolução das regras de governança, de políticas de compliance avançadas e reconhecidas em prêmios e certificações.

A tese que vem sendo defendida pelo governo é de que o modelo de governança ideal é o das empresas privadas, desconsiderando que muitas delas estão envolvidas em escândalos e investigações. Só no mercado financeiro há casos icônicos como o do HSBC, que precisou se reestruturar após escândalos financeiros e acabou saindo do Brasil, entre muitas outras denúncias contra bancos privados. A Caixa, por outro lado, além de passar por todos os controles existentes para os privados, presta contas para mais de 18 setores diferentes, sendo supervisionada por Ministérios e TCU.

Outro argumento para justificar esse processo seletivo por uma consultoria privada é que desta forma afasta-se a indicação “política”, que seria responsável pela corrupção. Mas a corrupção não é inerente ao setor público, e sim faz parte de um modelo econômico e social que privilegia a ganância e atinge os setores público e privado de igual forma. A melhor forma de combater a corrupção é ampliar os espaços para controle social, como exemplo, elegendo todos os membros do CA entre empregados e segmentos no qual o banco atua.

O que mais preocupa é que esse novo processo seletivo integra o conjunto de iniciativas desse governo que vem deturpando o papel do Estado, com privatizações e sucateamento do patrimônio público brasileiro. A Caixa só não se tornou S/A por conta da organização e resistência dos empregados e de vários setores da sociedade, mas vem perdendo seu papel de protagonista como banco social ao adotar a mesma lógica de resultado do setor privado, ampliando o lucro à custa da diminuição do crédito, aumento de juros, tarifas e corte de custos em RH.

A melhor opção seria os dirigentes selecionados entre os empregados. Porque a Caixa conta com corpo funcional qualificado, formado por meio de concurso público, com médias de escolaridade e formação acima das demais instituições financeiras.  Um exemplo desse tipo de prática é o Bradesco, um banco privado que adota como princípio nomear para a direção empregados de carreira.

Trazer representantes do “mercado” para posições-chave da Caixa não terá o efeito de melhorar a governança ou a transparência, além de aprofundar um modelo de negócios que retira a empresa dos mercados em que é líder, diminuindo sua capacidade de gerir as políticas públicas e atendendo a interesses dos bancos privados. E como justificar a abertura de um processo de seleção para gestores da empresa a menos de 5 meses da posse de um novo governo (e, portanto, de um novo controlador do banco) que poderá mudar tudo o que vem sendo feito até agora?

O fundamental no atual estágio é refletir sobre qual futuro queremos para o Brasil e qual papel a Caixa e demais empresas públicas terão nesse futuro. Esse é o critério sine qua non para determinar qual perfil dos executivos será o ideal para conduzir a Caixa. Sem essa reflexão, e principalmente sem a definição que virá das urnas, corremos o risco de desperdiçar energia e recursos e somente atender a interesses que não são os do povo brasileiro.

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