A Caixa Econômica Federal, uma das maiores instituições financeiras do país, vem passando por um processo significativo de redução de postos de trabalho nos últimos anos. Um levantamento realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base nos dados de balanço do banco, aponta que, do fechamento de 2014, quando o banco possuía 101.484 empregados, até o final de março de 2024, quando encerrou o trimestre com 86.794 empregados, o quadro de pessoal do banco perdeu 14.690 postos de trabalho, uma redução de 14,5%.

Neste mesmo período, o número total de contas bancárias na Caixa saltou de 84,9 milhões para 233,3 milhões, crescimento de quase 175%.

Sobrecarga e adoecimento

“Quando você junta estes dois dados (redução do quadro de pessoal e o aumento do número de contas) com a reclamação dos empregados sobre as falhas de sistema da Caixa, fica fácil perceber que há uma enorme sobrecarga de trabalho e entender o motivo do aumento do adoecimento das empregadas e empregados”, disse o diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e coordenador da Comissão Executiva dos Empregados (CEE) da Caixa, Rafael de Castro.

“Com menos pessoas para atender este estrondoso aumento da demanda, e ainda sem a necessária melhoria na infraestrutura, não há saúde que resista”, completou a diretora executiva da Contraf-CUT, Eliana Brasil.

“A redução do quadro de pessoal da Caixa seria ainda maior se não fosse a atuação do movimento sindical, que lutou pela contratação de pessoas com deficiência, para que fosse cumprido o que determina a lei de inclusão, assim como pela extensão da validade do concurso de 2014, que permitiu a contratação de mais aprovados”, lembrou Eliana.

Prejuízo aos clientes

A redução do quadro de pessoal e a falta de investimentos em tecnologia causam sérios prejuízos à qualidade do atendimento aos clientes da Caixa que, em grande parte, fazem parte da população mais carente, sem acesso e pouco conhecimento de serviços de internet.

“Não é raro vermos notícias na imprensa sobre as enormes filas e agências da Caixa lotadas. Isso compromete a capacidade da Caixa de cumprir seu papel social, principalmente com relação ao pagamento de benefícios sociais, como o Bolsa Família e o seguro-desemprego, mas também em algo que a Caixa é fundamental, que o financiamento habitacional”, disse o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), Sergio Takemoto, ao lembrar que a Caixa é líder de mercado no segmento de crédito imobiliário, tendo fechado o primeiro trimestre de 2024 com 67,68% da carteira neste segmento.

“Mas, além dos clientes, a imagem do banco e dos empregados são prejudicadas. Ao ver uma notícia desta na TV, na maioria das vezes as pessoas não conseguem perceber a sobrecarga dos empregados e tampouco a falta de investimentos”, disse o presidente da Fenae. “Esta é uma consequência do sucateamento pelo qual o banco vem passando. Não raro, visando a privatização”, completou.

Reivindicações

Os próximos meses serão decisivos para a solução destes problemas pelos quais passa a Caixa. Com o slogan “A sua luta nos conecta”, a categoria bancária já iniciou o processo de negociações com os bancos para a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) e as empregadas e empregados da Caixa realizam também negociações específicas para renovar seu Acordo Coletivo de Trabalho (ACT). As pautas de reivindicações já foram entregues à Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) e à Caixa no dia 18 de junho. Nesta quarta-feira (26), acontece a primeira reunião com a Fenaban com o tema emprego.

Com a Caixa, para sanar os problemas citados neste texto, além de mais contratações, as empregadas e empregados da Caixa reivindicam:

a criação de uma carreira de TI para segurar talentos;

a renovação imediata do parque tecnológico;

fornecimento de recursos de acessibilidade;

aumentar a quantidade e diversidade de tecnologias assistivas disponibilizadas pela Caixa;

apoio financeiro para aquisição de tecnologia assistivas por empregados PcD que trabalhem de forma remota;

melhoria das estruturas das agências;

fim da designação de função por minuto, com retorno da designação exclusivamente de forma efetiva;

incorporação de função gratificada exercida por mais de 10 anos;

registro de horário de trabalho por todos os empregados, com efetivo pagamento de horas-extras;

redução da jornada para cinco horas diárias, cumpridas em quatro dias por semana, sem redução dos salários;

fim da cobrança abusiva de metas e do assédio moral e sexual;

estabelecimento de critérios objetivos de promoção por mérito;

avaliação por múltiplas fontes nos programas de desempenho, considerando as metas sociais;

reformulação do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) com a participação dos empregados, de forma que seja possível verificar as reais condições de saúde e de trabalho dos empregados.

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