Da Agência Fenae

“Falar em privatização hoje pega mal. Durante os anos de governo FHC, o neoliberalismo esteve no auge, a tal ponto que falar contra a privatização era como formar um cordão de isolamento. Pensava-se que a redução do Estado era o único caminho para o desenvolvimento. Hoje, a sociedade sabe que as privatizações não são mais necessárias. O neoliberalismo já foi experimentado e a população reprovou esta idéia”.
Esse pensamento, expresso pelo vice-presidente da Fundação Perseu Abramo, Ricardo Azevedo, abriu, em 17 de outubro, o debate “Não às privatizações: Brasil rumo ao pós-neoliberalismo”, realizado em Brasília e que teve a presença de dois palestrantes: o secretário nacional de Economia Solidária, economista Paul Singer, e o diretor-presidente da Fenae, José Carlos Alonso.
A mesa dos trabalhos contou ainda com a participação de Pedro Biondi, filho do homenageado da noite – o jornalista Aloysio Biondi, autor do best seller “O Brasil Privatizado: Um balanço do desmonte do Estado” (Editora Fundação Perseu Abramo), entre outras publicações, e colaborações como para as revistas FENAE AGORA e a do Sindicato dos Bancários de São Paulo. O senador Eduardo Suplicy, companheiro de redação de Biondi na “Folha de S.Paulo”, também compareceu para prestigiar o amigo falecido em 21 de julho de 2000.

• As empresas públicas

Na exposição sobre “Privatizações e suas conseqüências para o Estado e para a sociedade brasileira”, o professor Paul Singer desmontou o argumento utilizado pelos neoliberais de que as empresas estatais precisavam ser privatizadas porque não obtiam lucro. “As empresas públicas não foram feitas para ser lucrativas. O lucro só seria possível se estivéssemos em mercados competitivos, ou seja, em que todos os compradores e consumidores conhecessem todos os produtos, seus respectivos valores e a qualidade de cada um. Todas as empresas que foram privatizadas eram monopólicas ou oligopólicas, portanto, não se submetiam e não se submetem à concorrência” – afirmou.
Singer disse ainda que o principal objetivo dos neoliberais com as privatizações era impedir a função distributiva das empresas estatais. Do ponto de vista da economia solidária, o professor lembrou ser fundamental a inclusão social e o microcrédito, hoje distribuído pelos bancos públicos.
“Privatizar os bancos públicos será um prejuízo não apenas para os empregados, mas contra a população mais pobre e carente e que quer sair dessa situação” – concluiu.

• O papel dos bancos públicos

José Carlos Alonso abriu sua exposição sobre “O papel dos bancos públicos no novo projeto de desenvolvimento para o Brasil” falando que as privatizações, ao contrário do argumento usado pelos neoliberais, não se preocupam com a sociedade e o cidadão.”
Ele lembrou que a Caixa estava sendo preparada para a privatização e, em conseqüência disso, o sistema de inteligência da empresa no caso das loterias foi dado para a Gtech (sem concorrência), que depois foi alvo de denúncias de má administração. Criticou ainda, como parte desse processo, a venda da seguradora da Caixa para uma estatal francesa, assim como a redução do número de empregados concursados.
Alonso disse, também, que apesar de todos os avanços obtidos pelo governo Lula, ainda falta melhorar a questão dos juros dos empréstimos do microcrédito, fundamental para o desenvolvimento do Brasil.

• O Brasil privatizado

Pedro Biondi fez um testemunho sobre a vida de seu pai, Aloysio Biondi, abordando seu papel como leitor crítico das privatizações e como o livro “O Brasil Privatizado” reúne a síntese de seu pensamento sobre o tema. Para ele, a obra foi fundamental para rebater a campanha de que as estatais eram ineficientes e utilizavam mal os recursos públicos, impedindo que o seu dinheiro fosse usado em projetos sociais.
Pedro falou ainda das demonstrações dos efeitos das privatizações, em que as tarifas não foram barateadas (o sistema de telefonia teve um reajuste de 500% e o de energia elétrica, de 130%), criticando também o problema do apagão pelo mal gerenciamento do sistema.
E concluiu: “Precisamos exigir uma postura dos candidatos e dos governos sobre o assunto das privatizações, porque é inegável que os dois projetos são diferentes”.

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