Com o crescimento das ameaças de privatização da Caixa, muitos empregados se perguntam o que poderia acontecer caso o banco realmente fosse vendido. Qual o destino de seus trabalhadores e o impacto para a população?

Uma boa maneira de entender este processo é conhecer a história dos bancos públicos brasileiros que foram privatizados. E não foram poucos. A maioria dos bancos vendidos pelo governo eram estaduais: 13 instituições. Hoje, apenas os estados de Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Santa Catarina, além do Distrito Federal, mantêm bancos sob seu controle acionário.

Mas, no último dia 4, o governador do Rio Grande do Sul anunciou a venda de ações do Banrisul e a oferta de dividendos do banco à União. Esta seria uma “alternativa” à privatização tradicional da instituição que vinha sendo discutida.

Banespa – Um dos casos mais emblemáticos foi a venda do Banco do Estado de São Paulo (Banespa). Inicialmente, o banco foi “federalizado” (em 1995) e, depois, vendido pelo governo FHC ao Banco Santander, de capital espanhol, em 2000.

Os antigos trabalhadores do banco não guardam boas lembranças deste período. Renato Fernandes, ex-funcionário do Banespa, atual empregado da Caixa e diretor da APCEF/SP, define o processo que viveu como traumático. “É sofrido, muitos tinham a ideia de que se aposentariam no banco, que faziam parte da família banespiana, uma perspectiva de vida toda planejada que foi por água abaixo”, ressaltou. Segundo Renato, não foram poucos os funcionários que ficaram deprimidos, com famílias desestabilizadas.

O Banespa chegou a ter mais de 37 mil empregados, dos quais cerca de 5 mil continuaram no banco logo após o Santander assumir as operações. Hoje, são poucos os funcionários no banco espanhol oriundos do Banespa.

Transição – Nos cinco anos entre o anúncio de privatização e a concretização da venda, o clima de competição dentro das agências se acirrou e as metas só aumentavam. “Durante a intervenção (transição) nos elogiavam, diziam que o banco era uma máquina de fazer dinheiro fantástica, a história de que ele deveria ser vendido porque não prestava mais era balela”.

Outro problema é que desde o primeiro anúncio da intenção de privatizar o banco, não houve transparência por parte do governo e da direção do Banespa. “Tudo começou como uma surpresa. As informações só chegavam por meio da Associação dos Funcionários do Banespa (Afubesp) e dos sindicatos, da direção não vinha nada. Às vezes só ficávamos sabendo dos detalhes pelos jornais”, recordou.

Renato lembra que se não fosse a atuação das entidades representativas, a venda do banco teria ocorrido com rapidez. A luta ocorreu tanto na justiça como nas ruas, mas infelizmente a pressão dos banqueiros foi maior.

Perdas – O plano de saúde foi mantido por apenas um ano depois da venda e a previdência privada dos funcionários devolveu somente o valor que os trabalhadores haviam pago. A contribuição do banco ficou retida. “Nós ganhávamos 50% a mais que os funcionários de bancos privados. Uma parte do salário dos poucos que ficaram foi congelada e acabou, com o tempo, sendo nivelado com o de mercado, que era menor”, apontou Renato. Muitos, no desespero de se ver sem emprego, abriram o próprio negócio, mas, sem o devido planejamento, acabaram indo à falência.

“A armadilha está montada. Se bobearmos, a privatização vai nos pegar. É um processo que te faz ganhar menos, perder direitos e algo que muito se valoriza, que é a segurança”, reforçou Renato.
As perdas não são apenas para os empregados das empresas privatizadas. O Banespa, por exemplo, era também o principal responsável pelo crédito agrícola no estado, muito utilizado por pequenos produtores.

Após sua venda, a lacuna foi preenchida pelo Banco do Brasil, hoje maior financiador agrícola do país e que também sofre ameaças de privatização. Essa linha de crédito do governo não é exclusiva do BB, no entanto, não há interesse dos bancos privados em emprestar dinheiro para pequenos agricultores. 

Ou seja, se acabarem com os bancos públicos, aqueles que dependem dos programas sociais geridos por eles também sairão prejudicados.

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