Matéria publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, em 13 de março, destaca afirmações do presidente da Caixa, Pedro Guimarães, sobre ataques sofridos por conta de mudanças na estrutura da instituição. Guimarães, com 20 dias no cargo, diz que trocou todos os vice-presidentes, 38 dos 40 diretores e 74% dos 84 superintendentes regionais. Promete vender prédios do banco, ser mais duro nas negociações dos contratos em várias áreas, incluindo gastos com segurança, e reduzir desembolsos com patrocínio e publicidade.

O presidente da Caixa diz que “seu compromisso é com a Caixa” e “vai reduzir R$ 3,5 bilhões de despesas porque era muito fácil gastar na Caixa”. Afirma ainda que “não faz nenhum sentido” ter sete prédios apenas na Avenida Paulista e 15 edifícios em Brasília: “Será que vou descobrir que os donos desses imóveis se beneficiariam da Caixa?”.

Para finalizar suas críticas à empresa e ao corpo funcional, Guimarães afirma que “a Caixa é ineficiente nas despesas e ineficiente em cobrar receitas. O banco paga muito mais que a média dos concorrentes e recebe muito menos”.

Será mesmo?

Nossa Opinião

Parte das indagações feitas pelo presidente da Caixa e publicadas na matéria de O Estado de S. Paulo pode ser respondida por meio de consultas a documentos públicos ou acessíveis graças à Lei de Acesso à Informação (que possibilita que qualquer cidadão obtenha informações referentes à administração pública direta, indireta e às empresas públicas).

Consulta às notas explicativas das demonstrações financeiras da Caixa, por exemplo, mostra que os maiores beneficiários da despesa de aluguel paga pela empresa são um certo REG/Replan (proprietário de R$ 5 bilhões em imóveis locados à Caixa), seguido pelo REB e pelo Novo Plano.

Parte das afirmações feitas passa ao leitor a ideia de desperdício e/ou mau uso de recursos pela empresa pública.

Alguém que analise os números da Caixa e os com os pares do mercado provavelmente fará juízo diferente, se não tiver viés ideológico.

Um exemplo eloquente é o dispêndio com publicidade e propaganda: dada a disparidade entre os valores das duas instituições na rubrica contábil, Roberto Setúbal tem muito a aprender conosco. Ou o contrário.

Ocupação – A reportagem do Estado indica uma inovação no mercado imobiliário: a Caixa pretenderia, ao mesmo tempo, reduzir a quantidade de seus imóveis de uso e a sua despesa de locação (que costuma ser diretamente proporcional à área útil ocupada). Será que vem por aí agências “pocket”?

Nomeações – É frequente, quando ocorrem mudanças de governo, que os novos eleitos nomeiem pessoas de sua confiança para os cargos-chave da administração para implementar o projeto vencedor nas urnas. Pelas informações publicadas na reportagem, a atual administração demorou apenas 20 dias para executar estas alterações.

Responsabilidade – Um leitor mais crítico da reportagem do Estado pode entender que foram identificados indícios de dano ao erário na conduta de ex-dirigentes da empresa, o que caracterizaria crime de improbidade administrativa.

Se, de fato, existem tais indícios, a atual direção deve tomar as devidas providências, buscar os responsáveis por tais atos e a reparação dos eventuais danos. Se não existem tais indícios, é temerário que a reportagem dê margem a este entendimento, pois, neste caso, o dano é à imagem da instituição. Nos dois casos, a Caixa é vítima.

 

Total de imóveis de uso com depreciação (em bilhões)

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