2002 foi o último ano do governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), presidente que ficou conhecido por sua política neoliberal (mercado sagrado, estado maldito), pautada na privatização de várias estatais brasileiras. Foi o período com o maior número de empresas privatizadas da história do país: rodovias federais, bancos estaduais (Banespa, Banerj), empresas de telefonia (Telebrás) e de energia, mineração e siderurgia (Companhia Vale do Rio Doce). Também estavam na lista Caixa, Banco do Brasil e Petrobrás, mas faltou tempo.
Fernando Henrique Cardoso iria entregar ao mercado um banco com 23 milhões de clientes. O vice-presidente em exercício, Michel Temer, está ressuscitando as mesmas diretrizes e seguindo os mesmos passos de Fernando Henrique Cardoso. E é aí que começamos a entender a ligação desses dois períodos. FHC preparou a Caixa para a privatização, mas as eleições interromperam seus planos. Temer, assim que tomou posse, também começou os preparativos. E quer entregar um banco com 82 milhões de clientes.
Muitos empregados da Caixa não presenciaram aquele momento do banco, então é bom lembrar o que aconteceu nos anos que antecederam à saída de Fernando Henrique Cardoso do governo.
Os presidentes do banco naquele período – Sérgio Cutolo, Emílio Carazzai, Valdery Frota de Albuquerque – implementaram uma política de desmonte do banco, marcada pelo desrespeito e descaso com clientes e empregados.
Cutolo alterou as estruturas das agências e priorizou o autoatendimento. Segregou a área social e, literalmente, em umas algumas unidades, colocou o atendimento dessa área na garagem. Os envelopes deixados nas máquinas passaram a ser manuseados por trabalhadores contratados por empresas locadoras de mão de obra, sem os direitos da categoria bancária (terceirização de atividade-fim ou interposição fraudulenta de mão de obra). O número de caixas executivos foi reduzido (caixa-flutuante). Criou-se o RH 008 para demissão imotivada. Houve concurso público somente em 1998, mas os novos empregados contratados – os técnicos bancários – receberam tratamento diferenciado dos demais empregados: sem direito a licenças, salários menores, plano de saúde e de aposentadoria inferiores.
Criou-se uma nova forma de pagar os salários dos gerentes: a remuneração pela função (GTAG). No caso de afastamento ou aposentadoria, passou a valer apenas o salário-base, sem o complemento. O GTAG (agora CTVA) também não compõe a contribuição à Funcef, o que gerou milhares de ações judiciais. O salário dos empregados foi reajustado em 28,3% entre 1995 e 2002, enquanto o INPC atingiu 104,8%.
Em 1998 foi a vez de mexer no plano de previdência dos empregados da Caixa. O modelo imposto, o REB, trouxe muitos riscos e prejuízos para os trabalhadores, inclusive para os aposentados. Até hoje busca-se a incorporação pelo Novo Plano e a redução dos prejuízos causados a quem aderiu.
Em 2000 foi implementado um projeto chamado “segmentação” cujo principal objetivo era a redução dos custos de mão de obra, a imposição dos canais alternativos para o atendimento e a adequação da área comercial ao modelo privado. Em 2001, foi anunciado o fim das áreas-meio. O serviço que era feito nesses departamentos foi centralizado em Brasília. Os empregados, cerca de 20 mil, tiveram de achar vagas em agências ou Escritórios de Negócios. Na mesma época, foi lançado um Programa de Apoio à Demissão Voluntária, com objetivo de demitir mais de 5 mil trabalhadores.
Foi nesse período também que surgiu a ideia de se livrar da “massa velha” de trabalhadores da Caixa, aqueles empregados com mais tempo de casa e que “custavam” mais para o banco.
Em 2000, a Caixa possuía 53 mil empregados concursados e 51 mil terceirizados. Hoje, somos pouco mais de 96 mil trabalhadores admitidos por meio de concurso público.
Nessa época, a direção da Caixa impunha os acordos coletivos e utilizava a Contec – uma entidade de classe que representa menos de 10% dos trabalhadores do banco – para simular as negociações. Era uma forma de implantar as mudanças sem resistência da categoria.
FHC deixou a presidência em 1º de janeiro de 2003. Desde então, luta-se para recuperar direitos e reconstruir o banco público. Mas, daí em diante, é outra história…