Por Rafael de Castro, diretor da APCEF/SP e do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região

Chega ao fim mais um ciclo de muita luta e de avanços conquistados para os cerca de 500 mil trabalhadores de norte a sul, de leste a oeste do País. Derrotamos o discurso dos bancos e do governo e, novamente, saímos fortalecidos e de cabeça erguida.

A Campanha Nacional dos Bancários 2012 teve início em meio a uma conjuntura na qual o governo havia começado um ciclo inédito de seguidos cortes nas taxas de juros, puxados pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica e que, logo após, os bancos privados viriam a aderir. Também, na mesma linha, seguidos foram os cortes feitos pelo Banco Central na taxa Selic. Com este cenário, não demorou muito para a choradeira dos banqueiros começar. Se antes, para negar avanços, era apresentado o velho discurso da crise na Europa e de que o aumento real gera inflação, este ano, os bancos logo se apropriaram das mudanças do País para acrescentar ao discurso que a redução nas taxas de juros faria o lucro das instituições diminuir, o que inviabilizaria quaisquer reivindicações de aumento real ou melhorias na PLR, por exemplo.

Por diversas vezes, e em variados momentos, ouvimos discursos de representantes dos bancos, alegando que queriam marcar 2012 como o ano em que “gostariam” de fechar a renovação do Acordo Coletivo sem greve, respeitando a mesa de negociação. Para nossa “surpresa”, ou não, quando o período das negociações chegou, a velha postura de desrespeito por parte dos bancos se repetiu e os bancários não tiveram outra maneira de avançar a não ser pelo mesmo caminho que tem sido trilhado ao longo da última década: a greve.

Foram oito dias de greve nos bancos e mais de 9 mil unidades paralisadas no País até que os banqueiros se manifestassem, sentando para negociar no dia 25 de setembro. Após várias horas de negociação madrugada adentro, bancários de bancos privados e do Banco do Brasil encerraram a greve aceitando a proposta no nono dia de paralisações. Os empregados da Caixa aceitaram no dia 27.

Dentre os avanços conquistados estão: 7,5% de correção nos salários, que significam o maior aumento real (2%) não escalonado desde 2004; 10% de reajuste na regra adicional e na parcela fixa da PLR; 8,5% para auxílios refeição e alimentação, além de auxílio creche e 13º cesta alimentação; mais contratações; aprimoramento da ferramenta de combate ao assédio moral, além de garantias aos afastados e o compromisso de um censo na categoria que avaliará a questão de igualdade de oportunidades.

Na Caixa fomos além. Nossa mobilização garantiu reivindicações históricas como o compromisso de até 31 de março de 2013 apresentar uma proposta de estudos sobre o descomissionamento e até 31 de agosto concluir a implantação definitiva do login único, pautas mais do que necessárias para que possamos combater o medo imposto aos trabalhadores como ferramenta de gestão e que desencadeiam o processo de assédio moral crescente que temos hoje dentro do banco, seja pelo medo de perder a função gratificada por qualquer motivo (ou nenhum), seja pelo desrespeito diário a nossa jornada de trabalho, que fica sempre em xeque visto que não dispomos de nenhum sistema de controle que iniba fraudes e pressões por parte do banco para trabalharmos além daquilo que nos é pago.

Os avanços da mobilização em 2012 são ainda mais presentes em segmentos que vem aderindo fortemente a paralisação. Temos o maior piso da categoria com R$ 1.963 após 90 dias e ampliamos em mais 3.230 vagas o total de bolsas de incentivo à formação. A carga horária de estudos para acesso a promoção por merecimento foi reduzida de 100 para 70 horas com garantia de 6 horas de estudos dentro da própria jornada, possibilitando a participação efetiva de segmentos extremamente sobrecarregados e anteriormente impossibilitados de participar adequadamente do processo como os empregados de atendimento social, caixas e tesoureiros.

Quanto aos tesoureiros, a organização deste segmento junto com o conjunto de todos os trabalhadores, trouxe significativos avanços, como o curso de formação para tesoureiros e criação de banco de habilitados para exercício da função. O tesoureiro deixa de ser uma função estagnada e passa a possuir linha de sucessão abrindo horizonte de crescimento para os trabalhadores das Girets. Para finalizar, há ainda o pagamento por minutos trabalhados em substituição ao titular, o que permitirá que o tesoureiro possa, enfim, se ausentar do seu posto ir a uma consulta médica, por exemplo, sem se preocupar em não ter ninguém para substituí-lo. O compromisso da instalação de corredores para abastecimento de ATMs onde hoje não existem é outro avanço conquistado.

Nós, trabalhadores bancários, não nos daremos por satisfeito, mesmo saindo vitoriosos. A Campanha Nacional 2013 já começou. Com ela, a necessidade de acompanhamento, pressão e cobrança para que os prazos dados pela Caixa para, por exemplo, criação dos critérios para descomissionamento, instalação definitiva do login único e soluções definitivas para a sobrecarga dos tesoureiros sejam implementadas conforme acordo assinado. A ampliação do quadro para 99 mil empregados até o fim de 2013 tem, do nosso ponto de vista, o caráter de atender a situação das unidades que hoje estão estranguladas pela falta de pessoal.

Com a ampliação da rede proposta pelo governo, a pressão para que haja ainda mais contratações tem de ser ainda maior no próximo ano. Temos de ampliar nossa mobilização, ainda mais, para acabarmos com as diversas discriminações dentro do banco e irmos em busca, por exemplo, da licença-prêmio e do anuênio para fecharmos o ciclo de conquistas da pauta de isonomia, iniciada em 2003.

Acima de tudo, precisamos lembrar que as entidades representativas são “propriedades” dos bancários. É preciso participar de todas as etapas, interferindo na montagem da pauta de reivindicações, recebendo e indo ao encontro dos seus representantes, debatendo com os colegas de agência ou de departamento afim de estarmos todos preparados a qualquer momento para lutarmos juntos, lado a lado, contra a intransigência dos bancos e do governo. A força dos trabalhadores está no seu conjunto, na sua unidade. Qualquer debate contrário a isso, só fortalece a posição dos patrões.

Viva os bancários e bancárias. Parabéns a todos. E que o filme se repita no próximo ano com uma mobilização ainda maior e com muito mais conquistas.

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