O Dia Internacional da Mulher é uma data que reforça a luta por equidade de gênero e o reconhecimento da trajetória feminina em diversas áreas. Na Caixa, muitas empregadas conciliam carreira, família e outras atividades que fazem parte de suas vidas. Esse é o caso de Jenny Rugeroni, que além de atuar na empresa, é escritora e conquistou importantes prêmios literários.
Em entrevista, ela conta como começou a escrever, os desafios enfrentados por mulheres na literatura e no mercado de trabalho e a importância de dar voz a histórias femininas.
Como foi o início da sua trajetória na escrita? O que a motivou a seguir esse caminho?
Minha mãe era bibliotecária e sempre me presenteava com livros. Quando ela faleceu, eu tinha nove anos e comecei a escrever como forma de lidar com a ausência. Na adolescência, escrevia poemas e, no ensino médio, uma professora me incentivou a participar de concursos. Ganhei alguns prêmios, mas parei de escrever por cerca de 15 anos, até o falecimento do meu pai. Foi um momento difícil, e a escrita me ajudou novamente. Esses textos acabaram se tornando meu primeiro livro, A Herdeira do Silêncio, publicado em 2012. Foi surpreendente perceber quantos leitores se identificaram com aquela história.
Seus livros trazem personagens femininas fortes. O que inspira suas histórias?
Eu não escrevo pensando em um propósito específico, mas minhas referências são mulheres que enfrentam desafios, conciliam trabalho e maternidade e ainda lidam com desigualdade salarial. Depois de publicar A Herdeira do Silêncio e Um Céu de Estrelas Curiosas, começaram a me chamar de “escritora feminista”. Nunca foi algo intencional, mas percebi que minhas histórias refletem a realidade de muitas mulheres.
Você já enfrentou desafios ou preconceitos por ser uma mulher escritora?
Sim! Há uma pesquisa da UnB que mostra que 70% dos autores publicados pelas maiores editoras do país são homens brancos. A maioria dos donos dessas editoras e dos jurados de concursos também são homens. Isso faz com que muitas escritoras publiquem de forma independente ou por editoras menores, com menos alcance. Além disso, ainda existe a ideia de que livros escritos por mulheres são “subliteratura”. Percebo isso claramente em eventos literários: muitos homens sequer leem as sinopses de livros escritos por mulheres. Felizmente, esse cenário está mudando, mas ainda temos um longo caminho pela frente.
Como foi a experiência no Talentos Fenae/Apcef e a inspiração para o conto Jaguari?
Participo de concursos sempre que possível e já tive ótimas experiências no Talentos Fenae/Apcef, no qual fiquei em primeiro lugar no estado de São Paulo em 2019 e 2021, e em segundo em 2022 e 2024. O conto Jaguari nasceu de um relato de uma mulher da minha família. Pedi permissão para escrever e, quando terminei, enviei para ela ler. Ela chorou muito. Eu escrevo sobre o que me incomoda na sociedade e sobre temas difíceis de falar. Esse conto se tornou um livro homônimo, premiado pela Academia Pernambucana de Letras e que será publicado no segundo semestre de 2025.
Como é conciliar o trabalho na Caixa com a escrita?
A jornada de seis horas ajuda bastante! Trabalho na cidade onde moro, o que também facilita. Claro que gostaria de escrever mais, mas aprendi a não me cobrar tanto. Se minha casa estivesse impecável, meus livros não existiriam!
No ambiente de trabalho, quais desafios as mulheres ainda enfrentam?
Hoje, há políticas mais avançadas para equidade de gênero, mas a maternidade ainda impacta muito a carreira das mulheres. Muitas evitam assumir cargos que exigem viagens ou maior dedicação, algo que raramente acontece com os homens. Fomos conquistando nosso espaço no mercado, mas os cuidados com a casa e os filhos ainda recaem sobre nós. Espero que as próximas gerações mudem isso. Meus dois filhos foram criados sabendo que a responsabilidade doméstica é de todos.
Que conselho você daria para mulheres que sonham em escrever?
Não tenham medo de se expor! Nem todo mundo vai gostar do que escrevemos, mas a literatura é uma ferramenta poderosa de transformação. Também é preciso ter os pés no chão: escrever exige dedicação e nem sempre os resultados vêm rápido. Mas vale a pena. Através dos meus livros, conheci pessoas incríveis. A literatura transforma o mundo e nos transforma também.
Conheça os livros de Jenny Rugeroni
A Herdeira do Silêncio
“Minha mãe era quase uma lenda na cidade. Uma aura de mistério envolvia a mulher lindíssima que vivera reclusa. Somente agora, olhando para trás, eu percebia que não era uma vida normal. Somente agora percebia o impacto de seu silêncio. Será que Helen Mansfield havia sido feliz? Eu sabia tão pouco sobre ela…”
Vista por todos como uma mulher independente e lutadora, Alexandra traz marcas profundas da relação de amor e ódio com o pai alcoólatra. Das lavouras de algodão à sala de aula da universidade, ela tenta quebrar o círculo vicioso da pobreza. E descobre que os obstáculos que moldaram sua personalidade não conseguem destruir sua capacidade de amar.
A emocionante história de uma família ao longo de três décadas, tendo como pano de fundo o Brasil atual.
O Ano Em Que Não Choveu
Lívia e Alexandre parecem um casal tão perfeito quanto sua pequena propriedade ao pé da Serra da Mantiqueira, no interior de Minas Gerais. Mas a crise enfrentada por Lucas, seu filho adolescente, traz à tona conflitos que ambos prefeririam ignorar.
Enquanto a falta de chuva castiga o belo jardim da chácara e Alexandre procura na bebida uma resposta para suas frustrações, Lívia reluta em aceitar as mudanças que a maturidade traz para seu corpo. Ao se envolver em jogos de sedução com um colega de trabalho, ela mergulha em sentimentos de culpa, sem saber que o marido tem seus próprios segredos.
Romance premiado pela União Brasileira de Escritores (2019)
Vencedor do Prêmio Book Brasil (2021)
Um Céu de Estrelas Curiosas
O romance acompanha a trajetória de duas famílias que se entrelaçam por várias gerações. Passado e presente vão se alternando como peças de um quebra-cabeças, revelando a vida no interior de São Paulo ao longo do tempo.
Na década de 1950, a empregada doméstica Cristina se apaixona por Roberto, filho de um poderoso fazendeiro. A família do rapaz tem outros planos, e a paixão tem trágicas consequências. Trinta anos depois, Cristina está casada com outro, e tão realizada quanto a sua condição permite. Ao receber a notícia do casamento de sua filha, compreende que um velho segredo corre o risco de ser revelado, e pode destruir sua família…
Insubordinada
Conhecida na pequena cidade de Lagoa do Sul por seu comprometimento com causas sociais, Claudiane “Cacau” Damasceno recebe um convite para se candidatar ao cargo de prefeita. A partir de então, segredos de um passado que ela acredita ter superado são trazidos à tona e distorcidos por seus adversários políticos. Enfrentando o machismo e a intolerância religiosa, Cacau tem consciência de que está lidando com uma oposição ferrenha, que não hesitará em atingir as pessoas que ela mais ama. Até que ponto tudo é válido em uma campanha eleitoral?
Gabrielle Andersen, Rudyard Kipling e minha mãe
As treze crônicas que integram este livro abordam problemas sociais e familiares, muitas vezes a partir de experiências da própria autora. Falam de assuntos tão diversos quanto a perda da mãe aos nove anos, a fome, a pandemia de Covid e as eleições de 2018, o assédio moral no trabalho e a carga mental das mães que trabalham fora, traçando um retrato do Brasil contemporâneo sob o olhar feminino.
:: Se você se interessou pelos livros de Jenny Rugeroni, pode adquiri-los diretamente com a autora, autografados. Entre em contato pelo e-mail jenny_rugeroni@hotmail.com ou pelo WhatsApp (19) 99311-4259.