Por Rafael de Castro

O sentimento de confiança que leva milhões de brasileiros às agências da Caixa em busca de dias melhores é inversamente proporcional ao distanciamento que a atual direção do banco tem quanto à imagem, à história e à missão da própria empresa junto à população brasileira.

Antes, na história recente, a gestão era pautada pela tática do desmonte da empresa. Uma época sombria de nossos 150 anos na qual muitos empregados foram demitidos; na qual nasceu a excrescência de diferenciar escriturários de técnicos bancários em seus direitos; quando teve início os seguidos anos de reajuste zero para os empregados; e quando o sucateamento do banco foi um processo que por pouco não se tornou irreversível.

Em seguida, veio o resgate do papel da Caixa e as conquistas dos bancários. O retorno dos programas sociais, a retomada de direitos retirados, novas conquistas consolidadas, seguidos anos com aumento real… Parecia que os empregados poderiam voltar a ter dias normais de trabalho como em qualquer outro lugar e que a população, enfim, poderia voltar a ter na Caixa um “porto seguro”. Não é o que se vê nos dias de hoje. Está claro o confronto de ideias.

Para o governo federal, a Caixa tem apresentado bons resultados (será que se tem ideia do potencial da Caixa, caso fosse bem administrada?), seja pelo sucesso do programa Minha Casa, Minha Vida, seja pela gestão das obras do PAC, seja por quaisquer um dos outros programas que estão sob incumbência do banco. Mas o próprio governo já começa a distribuir a responsabilidade de alguns programas para outras instituições. De um lado isso é positivo, pois todos nós queremos que os bancos tenham uma atuação mais social e trabalhar com esses programas é um caminho. Por outro lado, essa mudança é resultado direto da falta de credibilidade na condução da CAIXA, resultado da morosidade e da falta de habilidade dos atuais gestores do banco.

A população, pela carência que existe no setor financeiro de instituições que tenham o viés da Caixa, ainda acredita que o banco é a sua casa. Que é o banco do povo. E essa percepção só existe ainda por um motivo. Eles ainda enxergam os empregados como anjos da guarda. Trabalhadores que ainda insistem em ajudar o próximo, em dar uma atenção especial. Muitos clientes, inclusive, acabam por ficar próximos de nós, empregados, por conta dessa relação especial que só a verdadeira missão da Caixa proporciona.
Os empregados vivem um dilema. Trabalhar pela missão da CAIXA ou procurar o pódium de medalhas (ou, na pior das hipóteses, ficar de fora do famigerado quartil ). A batalha interna é diária.

Como prestar um atendimento digno no balcão do FGTS sem ter que empurrar um “segurinho”? De que forma ajudar o micro e pequeno empresário, ou o cliente tradicional pessoa física sem que haja pressão para casar uma capitalização no desbloqueio da senha ou uma previdência na concessão de empréstimo? E tudo isso andando na corda bamba da falta de critérios na carreira. Fato esse que, se corrigido, poderia dar segurança e paz de espírito aos bancários, para trabalhar com o mínimo de dignidade.

A diretoria da Caixa e seus representantes regionais buscam apresentar números cada vez mais exorbitantes em setores que não são prioridade para um banco do porte da Caixa. A troco de quê? Para mostrar serviço pra quem?

Vide o último balanço apresentado do terceiro trimestre que aponta a área social como a grande responsável pelo salto 72,5% em relação ao mesmo período do ano passado, em particular o financiamento habitacional. Enquanto isso, a cobrança de metas abusivas e o assédio moral ficam cada vez maiores, principalmente em relação a produtos que muito pouco refletem no resultado, mas que causam enorme prejuízo ao maior, e principal, patrimônio do banco: seus empregados.

Enfim, a Caixa é um banco que tem uma missão que enche de orgulho seus empregados. Mas não é o banco que acredita nas pessoas como quer fazer crer. É um banco, sim, em que as pessoas acreditam. Muitos insistem em apostar que a Caixa não pode ir além. Para o Brasil seguir mudando, é preciso mudar a maneira de gerir seu principal agente de políticas públicas. É preciso um pouco de respeito, dignidade, reconhecimento e democracia na tomada de decisões. A Caixa não é de ninguém. A Caixa é de todos.

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