A Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) irá contribuir com os protestos contra a alta taxa de juros praticada pelo Banco Central (BC), junto com a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e demais centrais sindicais, em todo o país, no dia 30 de julho. Na data, ocorrerá o primeiro dos dois dias de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), órgão colegiado do BC responsável pela definição da taxa básica de juros da economia brasileira (Selic).
“O Banco Central está impondo uma taxa de juros que dificulta o crescimento econômico no país. A Selic alta, além de aumentar a dívida do governo com os títulos públicos, torna o crédito mais caro aos setores produtivos, que deixam de investir e, portanto, gerar empregos. A Selic elevada também induz ao aumento dos juros bancários, impactando no aumento da dívida das famílias. É um ciclo inaceitável!”, explica a presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta da CUT, Juvandia Moreira.
Uma arma política?
No último encontro para definir a Selic, nos dias 18 e 19 de junho, o Copom decidiu manter o índice em 10,50%. Com isso, rompeu com o ciclo de cortes que vinha ocorrendo desde agosto de 2023, quando a taxa básica ficou em 13,75% durante um ano. Ciclo de cortes estes que só foi implementado após intensa pressão de movimentos sociais e críticas do setor produtivo e do presidente Lula.
Por causa da Selic elevada, o Brasil é um dos países com uma das maiores taxas de juro real (que é o resultado da Selic menos a inflação) do mundo. A título de comparação, os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que reúne 38 países de economias mais avançadas) trabalham com juros básicos que não chegam a alcançar dois dígitos. Na União Europeia, por exemplo, o índice está em 3,75% ao ano.
O Brasil não poderia reduzir a Selic para esse nível por ter moeda menos valorizada, mas os percentuais determinados pelo Copom nos últimos anos são apontados como muito acima do aceitável por economistas, um deles é o prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz que, em março do ano passado declarou à CNN Brasil que “as taxas de juros reais brasileiras são muito, muito altas”.
O economista Ladislau Dowbor, professor da PUC São Paulo, alerta que a Selic praticada no país serve ao rentismo, ou seja, à exploração de aplicações financeiras, desviando recursos que poderiam ser investidos em setores que produzem empregos. “Não se trata de altos e baixos do mercado. É um sistema estruturado de extração de renda”, afirma.
O secretário de Assuntos Socioeconômicos da Contraf-CUT, Walcir Previtale, ressalta que o movimento sindical bancário participa da campanha #JurosBaixosJá desde o início do ano passado. “A categoria tem histórico em ações para chamar a atenção da sociedade sobre a relação da Selic com o desempenho econômico do país. Desde o ano passado, voltamos a reforçar a pauta, juntando forças com outros movimentos sociais contra a política do Banco Central que insiste numa taxa de juros elevadíssima, que em nada contribui para o desenvolvimento e o crescimento econômico”, pontuou.
Pesquisa Quaest divulgada no dia 10 deste mês apontou que a maioria dos brasileiros (66%) concordava com as críticas de Lula à política de juros do Banco Central, enquanto 23% discordavam e outros 11% não sabiam ou não responderam.
“Essa pesquisa mostra que a população compreende o assunto e entende que os juros altos afetam a vida de todos. Mostra ainda que o Banco Central está atuando contrário aos interesses do país, uma vez que a maioria discorda das decisões da entidade”, pontuou Juvandia. “O que revela também que o BC e não é independente na prática, porque vem submetendo todas as suas decisões ao mercado, em detrimento do cumprimento das suas obrigações, previstas em lei que são o crescimento econômico do país e o pleno emprego”, completou.