Na última quarta-feira, dia 18 de março, em reunião ordinária realizada em Brasília, o Conselho Deliberativo da Funcef analisou e aprovou o balanço 2008 da Fundação, no qual se configurou forte queda de desempenho em comparação com o período imediatamente anterior: a rentabilidade no último exercício foi de apenas 1,7%, contra 28,07% no ano de 2007. Apesar disso, o patrimônio total da Funcef passou de R$ 32,1 bilhões em 2007 para R$ 32,6 bilhões em 2008.
O resultado de 1,7% contrasta também com a meta atuarial estabelecida para 2008, de 12,3%. A grande distância entre o projetado e o alcançado deixa claro que houve problemas no meio do caminho e que há grandes desafios a serem suplantados no próximo período.
O balanço chegou ao Conselho Deliberativo com pareceres do Conselho Fiscal e das auditorias interna e externa favoráveis à aprovação. As análises das diversas instâncias de gestão e órgãos de controle enxergaram no cenário de crise econômica os fatores determinantes da mudança na curva de rentabilidade para os fundos de pensão, sobretudo por conta dos efeitos devastadores sobre o mercado de ações.
O resultado da Funcef foi, inclusive, superior à média do setor. Poucas fundações registraram rentabilidade positiva. O quadro geral foi de perda em relação ao ano passado, como no caso da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, que registrou índice negativo de 11,39%.
A interpretação de que os investimentos em renda variável (mercado de ações) foram os grandes responsáveis pela forte queda de desempenho dos fundos de pensão encontra total respaldo nos dados do balanço da Funcef, onde essa carteira ficou negativa em 19,8%.
Para provar que a renda variável, embalada pela crise, entrou de fato na contramão das contas da Funcef, a rentabilidade das demais carteiras não só foram positivas como apresentaram índices robustos: renda fixa (13,3%), imóveis (25,2%), operação de crédito com participantes (14,1%) e outros realizáveis (10,3%).
O nível de exposição da Funcef em renda variável é de 30% dos investimentos, índice inferior à média entre as fundações. Para efeito de comparação, a Previ realiza 57% dos investimentos pela carteira de renda variável. “O problema não se deu por escolhas incorretas, mas porque, de fato, não há saída de emergência quando se trata de política de investimento, principalmente num ambiente de incerteza como o que foi criado por essa crise de alcance global” – explicou a conselheira eleita Fabiana Matheus.
• Com queda nos juros, novos desafios
Depois de provocar estragos no mercado financeiro mundial, a crise avançou para a economia real, exigindo medidas efetivas para a recuperação da oferta de crédito, reaquecimento da economia e preservação/geração de emprego. A diminuição de juros passou a figurar entre as iniciativas de governos e instituições em escala global.
A taxa básica no Brasil, a Selic, pode chegar ao final de 2009 ao patamar mais baixo de sua história. Com isso, o governo passará a arcar com custo menor para rolar sua dívida, fazendo com que o rendimento das aplicações em renda fixa caia de forma significativa. Esse movimento impacta diretamente os fundos de pensão, uma vez que os mesmos possuem carteiras de renda fixa carregadas de títulos públicos. Na Funcef, esse tipo de investimento representou 58,25% das alocações de 2008. Na Previ, 37%, e na Petros, 71%.
E aí também não há como mudar a perspectiva desfavorável dando cavalo-de-pau na política de investimento. É necessário prudência. E, acima de tudo, norte seguro a ser seguido ao longo do tempo. O reposicionamento da Funcef – contou o conselheiro eleito José Miguel Correia – vem se dando há cerca de cinco anos. Em 2005, a carteira de renda fixa da Funcef continha 43% de investimentos expostas à evolução da taxa Selic, índice reduzido a 18% em 2008. Foram ampliadas as aplicações em renda variável e houve migração da renda fixa indexada a juros (fundos de investimentos indexados a CDI) para títulos indexados à inflação.
A Funcef vem redirecionando suas aplicações também para projetos de infra-estrutura. Por meio da Invepar, empresa de investimento e participações em infra-estrutura, na qual detém 20% do capital, a Fundação investe em rodovias e transporte metroviário. Participa ainda de investimentos em ferrovias por meio da ALL, maior empresa ferroviária da América Latina. Junto com outros parceiros, vem negociando a compra da participação da Camargo Corrêa na usina de Jirau, no rio Madeira, o que implicaria em exploração de oportunidades em novo setor, o elétrico.
A Funcef seguirá atuando fortemente no mercado de imóveis, onde tem alcançado excelentes resultados, e vislumbra ainda maior presença nos mercados de recebíveis, debêntures e certificados de crédito bancário.
Para o conselheiro eleito Miguel Correia, “a busca por maior rentabilidade e segurança para os fundos de pensão, passa, inevitavelmente, pela diversificação de investimentos e por uma estratégia adequada à prática de juros em patamares civilizados”. E, na opinião de Fabiana Matheus, “seria importante também uma sensível recuperação das bolsas”.
• Nova reunião em 25 de março
O único ponto da pauta esgotado pelo Conselho Deliberativo, em sua reunião ordinária desta semana, foi a análise e aprovação do balanço 2008 da Funcef. Os demais assuntos foram transferidos para nova reunião no dia 25 de março, quarta-feira. A abordagem de um único item da pauta deveu-se à necessidade de se ausentar do presidente do Conselho Deliberativo, Marcos Vasconcelos, para atendimento a uma demanda inadiável no Congresso Nacional, junto com a presidenta da Caixa, Maria Fernanda Coelho.
Entre os assuntos que ficaram para a reunião do dia 25, estão: demonstrações contábeis do exercício 2008, revisão de benefícios de pensão ex-Sasse – REG/Replan saldado – REB e Novo Plano, proposta de normatização da remuneração de dirigentes e conselheiros da Fundação e mudança do método de custeio do REG/Replan não-saldado. Os conselheiros eleitos – Carlos Levino Vilanova, Fabiana Matheus e José Miguel Correia – apresentaram voto propondo a mudança de custeio do REG/Replan não-saldado.