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Existe racismo no sistema financeiro. Bancários negros são minoria, ganham menos que os brancos e pouquíssimos ocupam cargos na diretoria. A constatação é antiga, e a falta de avanços na área foi debatida no II Fórum Nacional pela Visibilidade Negra no Sistema Financeiro, que ocorreu nos dias 13 e 14 deste mês no Rio de Janeiro.

No Brasil, 50,7% da população é formada por negros (pretos e pardos) segundo o censo do IBGE de 2010. No entanto, nos bancos a realidade é outra. Segundo a própria Febraban, só 19% dos bancários são negros.

E é para chamar a atenção da desigualdade racial no setor que o Sindicato realiza uma série de eventos na semana em que é lembrado o Dia da Consciência Negra, 20 de novembro. Os bancários estão convidados a acompanhar o MB com a Presidenta sobre o tema, pelo site, na quinta-feira 21, às 20h. No dia seguinte, sexta 22, a entidade realiza seminário sobre o negro e o mercado de trabalho, na sede (Rua São Bento, 413), às 10h. Participará do evento o advogado Silvio Almeida, do Instituto Luiz Gama.

Também na sexta, a partir do meio dia, começa a concentração do Cortejo Afro, que este ano homenageia o orixá Ogum (arte do lado), que simboliza a guerra, as lutas que precisam ser travadas no setor para que o atual quadro de desigualdade mude. Zumbi dos Palmares e a vereadora Claudete Alves (PT-SP), autora da lei 13.707/03 que instituiu o Dia da Consciência Negra como feriado na cidade de São Paulo também serão homenageados. O cortejo seguirá pelo Centro e será encerrado, como de costume, com uma benção na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Paissandu.

Desigualdades – Segundo a edição de 2012 da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho e Emprego, a maior parte dos bancários negros está nos cargos de menos hierarquia. No posto de auxiliares de escritório 30% são negros. Em cargos de gerência, 14%, enquanto apenas 4% estão na diretoria. “Os negros que conseguem emprego não chegam aos cargos de chefia”, lamenta o dirigente e coordenador do Coletivo de Combate ao Racismo do Sindicato, Júlio Cesar Santos.

Para Júlio, além do preconceito, a situação se agrava com um “embranquecimento” no setor. “O número de brancos admitidos é muito maior que o de negros, mesmo com a ascensão de uma nova classe social e com mais negros formados nas universidades. Isso sem falar da faixa salarial dos negros. Mesmo trabalhando na mesma função, eles recebem, em média, 84% do salário dos brancos.”

Os dados, também da Rais, apontam que o número de negros admitidos em bancos públicos foi de 4.552, enquanto o de brancos foi mais que o dobro, 10.923. Nos privados, a diferença é ainda mais assustadora. Foram admitidos em 2012, 4.364 negros, e um número quase cinco vezes maior de brancos: 19.923. O número de negros demitidos também é maior nos privados: 5.169 bancários contra 1.331 nos públicos.

Preconceito dos clientes – Júlio ainda ressalta que algumas propagandas, em sua maioria com atores brancos interpretando bancários, geram expectativas à sociedade com um preconceito já enraizado. “O cliente que já é preconceituoso entra em uma agência e procura a loira de olhos azuis da propaganda para atendê-lo, um tipo praticamente raro na realidade miscigenada brasileira”, diz o dirigente.

O ex-bancário Ricardo Prates Serafim sofreu na pele esse tipo de preconceito ao ouvir de uma cliente do banco que preferia ser processada a ser “atendida por um marrom”. O trabalhador registrou boletim de ocorrência e após sair da instituição financeira, recentemente, entrou com ação trabalhista contra o banco. “Entendo que o banco prefere contratar brancos, até por conta do olhar preconceituoso dos seus clientes. Raramente via bancários negros em agências ou departamentos”. Ricardo entrou com a ação por considerar a postura do banco “neutra”, mesmo diante da prática do racismo ter ocorrido dentro da agência.

Fonte: Seeb

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