Faltam sistemas de reabilitação eficazes e política de prevenção das doenças

Reportagem publicada no jornal Folha de S.Paulo, em 28 de abril, informou que os bancos estão em primeiro lugar no ranking de registros de Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/Dort) no País.
Os dados são do Ministério da Previdência Social. Somente de 2000 a 2005, R$ 981,4 milhões foram pagos em auxílio-doença a 25,08 mil bancários afastados do trabalho por doenças incluídas nessa classificação, como: doenças de coluna, tendinite, bursite e síndrome do túnel do carpo.

• Bancários

Entre os bancários, em média, cada trabalhador permaneceu um ano e meio afastado.
De acordo com os dados da Previdência, para cada grupo de 10 mil trabalhadores, 520 bancários foram afastados por LER/Dort entre 2000 e 2004.
“Os bancos precisam investir em prevenção e adotar políticas que não forcem os trabalhadores a produzir mais do que sua capacidade” – comentou o secretário de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e coordenador da Comissão Executiva dos Empregados (CEE-Caixa), Plínio Pavão.
De acordo com Plínio, as estatísticas divulgadas tratam apenas das doenças osteomusculares. “Sabemos, com base em estudos do próprio Ministério da Previdência, que os bancos são também campeões em doenças mentais, provocadas, principalmente, por pressão pelo cumprimento de metas abusivas” – lembrou o dirigente.
O secretário de Saúde da Con-traf/CUT explicou, também, que a terceirização de alguns setores como retaguarda bancária e call centers, sempre acompanhadas de precarização das condições de trabalho, tende a agravar o cenário.

• Aumento no grau de risco dos bancos

Recentemente, o Ministério da Previdência promoveu uma revisão no enquadramento de grau de risco dos bancos, elevando a contribuição para o Seguro Acidente de Trabalho (SAT) dessas instituições de 1% para 3%. Para o secretário de Previdência Social, Helmut Schwarzer, de acordo com matéria do jornal, a revisão é uma forma de a Previdência Social garantir os direitos dos trabalhadores afastados sem onerar a sociedade como um todo.

• Subnotificação

Apenas 8.700 dos casos, equivalente a um terço dos 25,08 mil bancários que receberam o auxílio-doença, foram reconhecidos pelos bancos. De acordo com Schwarzer, isso caracteriza a elevada subnotificação.
“Esse quadro de subnotificação vem sendo denunciado há muitos anos pelas entidades sindicais ligadas à Contraf/CUT” – comentou Plínio Pavão. Para ele, o advento do Nexo Técnico Epdemiológico, que nada mais é que um instrumento com base na epidemiologia para auxiliar na identificação do chamado nexo causal – a relação da doença com o ambiente de trabalho – irá certamente melhorar as estatísticas, mostrando que o problema é muito mais grave do que querem fazer parecer os banqueiros.

• Cultura preventiva

A doutora em saúde do trabalho e professora da Universidade de Brasília (UnB), Anadergh Barbosa, afirmou que, nos últimos anos, a categoria bancária passou por maiores alterações na estrutura do trabalho em relação a outros setores.
Na visão dela, contribuíram para o aumento da vulnerabilidade dos trabalhadores: a informatização, a incorporação de metas no gerenciamento dos bancos, a insegurança, os assaltos e o menor prestígio da profissão no ambiente social.
“O que falta é a promoção de sistemas de reabilitação eficazes juntamente com uma cultura de prevenção por parte dos bancos” – comentou a diretora-presidente da APCEF/SP, Fabiana Matheus.

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