Por: Anselmo Massad, Rede Brasil Atual
A troca de comando da Caixa Econômica Federal (CEF) é vista com reservas por parte do movimento sindical bancário. A falta de informações sobre os objetivos do governo federal ao trocar o comando do banco público, tirando Maria Fernanda Ramos Coelho e colocando o vice-presidente de Governo da instituição, Jorge Hereda, levanta dúvidas sobre o que eles consideram ser riscos de uma aproximação com o mercado.
A informação, obtida pela Rede Brasil Atual, é de que Maria Fernanda encerraria o ciclo de quase cinco anos no cargo. Os motivos da mudança não foram divulgadas. Nos últimos dias, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vinha sinalizando mudanças no banco, incluindo algumas diretorias e a presidência. Parte dos motivos relacionam-se à própria mudança no governo federal. A indefinição, aliada ao corte no Orçamento Geral da União anunciado em fevereiro, reduziram praticamente a zero a aprovação de empreendimentos do "Minha Casa, Minha Vida".
"Vemos essa troca com preocupação, porque não fica claro para onde os bancos públicos vão. Se irá permanecer o caminho de fortalecer as políticas públicas para acabar com a desigualdade no páis ou se vai se aproximar dos bancos privados", pondera Cordeiro. A Caixa é peça-chave do programa "Minha Casa, Minha Vida", além de administrar recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), como o Seguro Desemprego por exemplo, e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
"Na crise de 2008, tanto a Caixa Econômica Federal quanto o Banco do Brasil tiveram um papel fundamental", lembra Carlos Cordeiro, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT). Ele refere-se ao esforço de ampliação de crédito promovido pelas instituições por influência do governo federal, enquanto os bancos privados adotavam medidas de contenção de empréstimos.
Cordeiro lembra que Maria Fernanda foi mantida e teve papel destacado na expansão do crédito, enquanto a presidência do Banco do Brasil foi trocada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A saída de Antonio Francisco de Lima Neto para dar lugar a Aldemir Bendine, além de trocas em seis vice-presidências, garantiu a adesão da instituição a política anticíclica aplicada pela equipe econômica à época. A Caixa dobrou o volume de financiamentos imobiliários em 2009, e aumentou sua participação no mercado geral.
Na mudança definida a partir do pedido de demissão de Maria Fernanda, ocorreu sem qualquer consulta às entidades sindicais, segundo Cordeiro. Mas devem ser solicitadas audiências com membros do governo federal para discutir a questão. Ele teme ainda retrocessos na relação com a direção do banco do ponto de vista de negociações trabalhistas.
"Apesar de ainda haver problemas, no último período foi reestabelecido o diálogo, o que foi importante para a retomada de contratações e para garantir aumentos de salário e de participação nos lucros e resultados", avalia. Para Cordeiro, o espaço para negociação permitiu, na prática, que a pressão exercida por paralisações em 2009 e 2010.
A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região, Juvandia Moreira, vai além. "O sindicato espera que o novo presidente da Caixa valorize os empregados e resolva demandas que temos, como o cumprimento da jornada de seis horas sem redução de salário", ressalta Juvandia.