Acontece nesta quarta-feira, dia 3, a partir das 14 horas, a terceira rodada de negociação da Campanha 2014 entre o Comando Nacional dos Bancários, coordenado pela Contraf-CUT, e a Fenaban. O encontro, desta vez, tem como objetivo discutir emprego, incluindo o fim das demissões e da rotatividade, mais contratações, proibição às dispensas imotivadas, aumento da inclusão bancária e combate às terceirizações. Na quinta-feira a rodada de negociação durará o dia todo, tendo a remuneração na pauta.
Durante a 16ª Conferência Nacional dos Bancários, os empregados dos bancos definiram a defesa do emprego como uma das principais preocupações da Campanha 2014, pois, apesar dos lucros gigantescos, os bancos brasileiros, principalmente, os privados, continuam eliminando postos de trabalho, enquanto em outros setores tem sido gerado novos empregos.
Segundo um levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base na Rais do Ministério do Trabalho, os bancos privados fecharam 18.023 postos de trabalho em 2013. E, de janeiro a julho deste ano, já foram fechados mais 3.6000 empregos, segundo a Pesquisa de Emprego Bancário (PEB). A pesquisa é feita pela Contraf-CUT desde 2009, em parceria com o Dieese com base nos dados do Caged.
Nesse mesmo período, a economia brasileira criou 1,75 milhão de postos de trabalho, levando o emprego no Brasil ao melhor nível em toda a história.
"Os bancos que estão fechando postos de trabalho prejudicam os bancários, pioram o atendimento dos clientes e da população e não contribuem para o crescimento econômico e social do país com emprego e distribuição de renda", acrescenta Carlos Cordeiro. "Isso também é um sinal vermelho para a classe trabalhadora, uma vez que essa é exatamente a receita para o país apregoada por economistas de bancos que estão coordenando programas de governo de alguns candidatos à Presidência da República."
Rotatividade achata salários
Ainda segundo a pesquisa Contraf-CUT/Dieese, além de fechar os 21.623 postos de trabalho entre os meses de janeiro e julho de 2014, os bancos privados também foram responsáveis pelo desligamento de 66.567 trabalhadores, no mesmo período.
Em 2013, foram 42.892 desligamentos.
Para Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional, é preciso acabar com a rotatividade, pois no sistema financeiro ela faz parte do negócio e consiste em um mecanismo para reduzir salários e aumentar lucros.
O Caged mostra que a remuneração média dos bancários desligados de janeiro a julho deste ano era R$ 5.216,86 contra R$ 3.303,55 dos admitidos – o que caracteriza uma diferença de 63,3%.
Isso explica por que os bancários, com muita mobilização e luta, conquistaram aumento real de salário de 18,3% de 2004 a 2013, mas o aumento da remuneração média do bancário neste período foi de 13,6% acima da inflação. A situação é ainda pior nos bancos privados, onde está concentrada a rotatividade. Nesse segmento, o aumento médio da remuneração foi de apenas 8,8%, segundo a pesquisa do Dieese com base nos dados da Rais. Nos bancos públicos, a elevação da remuneração média foi de 16,9%.
Confira aqui o estudo do Dieese sobre emprego e remuneração bancária nos últimos 10 anos.
Terceirização fecha empregos e reduz salário
A Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar (Pnad/IBGE) de 2002 registrou que havia naquele ano 586.765 trabalhadores no sistema financeiro. Já em 2011, a mesma pesquisa mostrou que esse número saltou para 1,004 milhão. No entanto, apenas 512 mil bancários eram formalmente contratados pelos bancos em 2012, sob a proteção da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria.
Para Miguel Pereira, secretário de Organização da Contraf-CUT, a cada bancário formal existe outro informal trabalhando no sistema financeiro, recebendo salários inferiores, cumprindo jornada de trabalho maiores e sem os mesmos direitos da categoria, aumentando os lucros dos bancos.
Entre 1999 e 2013, as instituições financeiras aumentaram 319% as despesas com trabalhadores terceirizados, tendência que vem se acelerando nos últimos anos, segundo Relatório Social da Febraban.
Se considerarmos os diversos tipos de correspondentes bancários (banco postal, lotéricos, pastinhas, supermercados, drogarias etc.), esses números poderiam ser exponencialmente multiplicados.
Esses trabalhadores terceirizados estão distribuídos pelo sistema financeiro em múltiplas CNAES (Classificação Nacional de Atividades Econômicas), dificultando sua identificação e localização como prestadores de serviços aos bancos.
"Essa ameaça se agrava com a tentativa do setor empresarial, tendo os bancos à frente, de legalizar a terceirização total no Brasil com a aprovação do PL 4330 na Câmara Federal, do PLS 087 no Senado e do julgamento de Recurso Extraordinário com Repercussão Geral no STF. E por último, é extremamente preocupante o fato de o programa econômico da candidata Marina Silva incorporar expressamente o compromisso de regulamentar a terceirização precarizante em todos os setores da economia", adverte Miguel Pereira.
Fonte: Contraf-CUT