O Dia Mundial da Conscientização do Autismo, celebrado em 2 de abril, foi criado pela ONU em 2007 para ampliar a compreensão sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e reforçar a importância da inclusão. No Brasil, as discussões sobre acessibilidade e respeito aos direitos das pessoas autistas avançaram nos últimos anos, mas ainda há desafios a serem superados.
Na Apcef/SP, a luta pela inclusão faz parte do compromisso da entidade com seus associados. “A conscientização precisa ir além do mês de abril. É essencial garantir que as leis de inclusão sejam respeitadas e que a sociedade compreenda as necessidades das pessoas autistas”, destaca André Sardão, Secretário de Políticas Sociais da Apcef/SP.
Além disso, o Coletivo Caixa Autista tem sido uma voz ativa na defesa dos direitos de empregados autistas da Caixa e seus dependentes. O grupo busca reconhecimento institucional, diagnóstico adequado e condições de trabalho mais acessíveis, além de fomentar o debate sobre neurodiversidade no ambiente corporativo. A Apcef/SP apoia essa luta e cobra da Caixa medidas efetivas para acolher e incluir esses trabalhadores.
Para trazer diferentes perspectivas sobre o autismo, ouvimos três associados que compartilham suas experiências pessoais e profissionais dentro do espectro.
“Meu maior desafio é preparar meu filho para esse mundo excludente”
Andréa Matias Cordeiro é mãe do Enzo, de 10 anos, e fala sobre a jornada desde os primeiros sinais até o diagnóstico, fechado quando ele tinha cinco anos. “Desde os dois anos e meio, a escola já apontava que ele precisava de acompanhamento para questões como atraso de fala e nervosismo. Eu sempre soube que ele era diferente”, conta.
A alfabetização precoce foi uma das habilidades que Enzo desenvolveu, mas as interações sociais ainda são um desafio. “Ele não tem maldade, não percebe quando alguém está machucando”, explica Andréa. Diante das dificuldades, a mudança de escola foi essencial para que ele tivesse um ambiente mais acolhedor.
Além dos desafios enfrentados pelo filho, Andréa também menciona a sobrecarga das mães atípicas e a necessidade de mais apoio. “Nosso cansaço já foi comparado ao de um combatente de guerra. Há muito o que avançar, não só em abril, mas no cumprimento das leis de inclusão.”
“Descobrir o diagnóstico foi libertador”
Ivanildo dos Santos Nery, Secretário de Responsabilidade Social da Apcef/SP, recebeu o diagnóstico de autismo grau 1 e TDAH aos 45 anos. “Passei a vida toda sentindo que meu cérebro funcionava de forma diferente. Saber que isso tinha um nome me libertou da culpa que carregava por não corresponder às expectativas nas relações humanas”, relata.
Sensível a ruídos, luzes fortes e ambientes tumultuados, Ivanildo enfrentava uma rotina desgastante no atendimento social de uma agência da Caixa. Após o diagnóstico, conseguiu uma realocação que melhorou significativamente sua qualidade de vida. “Hoje, trabalho em um espaço mais adequado e uso estratégias como óculos escuros e abafadores para minimizar a sobrecarga sensorial.”
Ele ressalta que o conhecimento sobre autismo no meio profissional ainda é muito limitado. “Muitas pessoas acreditam que sabem o que é o autismo, mas baseiam-se apenas em estereótipos. Precisamos de mais informação científica nas mídias, nas empresas e nas escolas.”
“A sociedade ainda não está preparada para nos incluir”
Outra associada, que prefere não se identificar, também recebeu um diagnóstico tardio, após seu filho ser identificado dentro do espectro. “Perceberam em mim características do autismo durante a investigação dele. Foi um processo de autoconhecimento, mas também de entender que passei a vida tendo minhas dificuldades invalidadas.”
Para ela, a falta de inclusão ainda é um grande obstáculo. “Não há hospitalidade para autistas na sociedade. Deficiências ocultas, como a nossa, são pouco compreendidas. O conceito de autismo ainda está preso a estigmas e desconhecimento, o que impede muitas pessoas de buscarem ajuda.”
A dificuldade em ambientes de trabalho e espaços públicos também impacta a rotina. “Tenho baixa bateria social e sobrecarga sensorial. O barulho e o excesso de estímulos me esgotam e causam dores incapacitantes por dias.”
Ela reforça a importância de adaptações no ambiente profissional e de letramento para gestores. “A inclusão real precisa partir do respeito às nossas necessidades, e não de tentativas de nos moldar a um padrão neurotípico.”