A Gestão de Desempenho de Pessoas (GDP) tem sido uma luta que a Fenae tem abraçado por seu potencial de agravar a situação dos empregados da Caixa. O presidente da Federação, Jair Pedro Ferreira, acredita que essa é mais uma medida para desmontar a Caixa. “Esse processo começa exatamente pelo enfraquecimento dos trabalhadores, que enfrentam mais dificuldades no dia a dia”, ressalta.
Ele considera inadmissíveis e inegociáveis vários dos pontos previstos no normativo do GDP. Entre esses pontos estão a assinatura de acordo individual entre o bancário e a empresa, e a classificação do desempenho do empregado com rótulos como “incipiente”, “emergente” (quatro níveis), “eficaz”, “superior em estilo”, “superior em resultado” ou “excepcional”, conforme o cumprimento das metas.
De acordo com Fabiana Matheus, diretora de Saúde e Previdência da Fenae, a implantação do GDP afronta todos os princípios coletivos da relação de trabalho e torna os ambientes de trabalho cada vez mais hostis, com sobrecarga, aumento da pressão, assédio moral e adoecimento da categoria. “Essa combinação de mecanismos perversos de ascensão e descenso na carreira com a redução de pessoal é explosiva”, alerta.
Método agrava desigualdades e rótulos
Plínio Pavão, assessor da Fenae, tem viajado pelo país com o Seminário Estadual sobre Saúde Caixa, Funcef e Previdência, em que apresenta o painel “RH 205 GDP – Caixa, meritocracia e assédio moral”. Ele, que também é aposentado da Caixa, faz críticas ao caráter meritocrático do programa: “É um mecanismo que compara as pessoas de forma inadequada, individualiza um trabalho que é coletivo, para o qual todos colaboram para se chegar a um resultado”. O assessor alerta, inclusive, que com esse discurso meritocrático, a Caixa ignora e acentua as desigualdades já existentes, como as de gênero e as que envolvem as pessoas com deficiência.
Plínio Pavão explica que a Caixa, ao impor um acordo de produção a cada empregado, acaba por estabelecer um ranking interno, classificando os empregados, segundo seu desempenho. “A classificação dos trabalhadores como ‘incipientes’, ‘eficazes’ e ‘excepcionais’ estigmatiza os empregados e afeta sua autoestima, além de se caracterizar como um fator de risco de pressão e assédio moral”, completa.
Normativo não deixa claros os riscos para o empregado
A Caixa iniciou a implantação do GDP em 2015, sem que houvesse qualquer discussão com os representantes dos empregados. Em maio daquele ano, a Fenae e a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) iniciaram uma campanha de conscientização e mobilização contra o programa. Na ocasião, foram divulgadas uma nota de repúdio das entidades e uma cartilha que foi distribuída a todos os trabalhadores do banco.
No Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) 2015-2016, os trabalhadores conseguiram a suspensão “da terceira onda” do programa, que era prevista para ser implantada em agosto de 2016 e atingiria todos os empregados. Foi uma conquista importante, mas parcial, pois a direção do banco sempre se recusou a revoga-lo, já planejando sua retomada, o que está ocorrendo desde julho com a publicação da mais recente versão do normativo RH 205. Na avaliação das entidades representativas dos empregados, o normativo apresenta redação ambígua e não deixa claros os prejuízos que o empregado poderá sofrer caso decida não aderir ao programa.
Fonte: Fenae.