O cenário de caos e desrespeito com a população e com os empregados da Caixa não acabou. Durante os primeiros dias de pagamento do Auxílio Brasil, veículos de imprensa noticiaram as enormes filas nas agências do banco em várias cidades do País. A situação é reflexo da desinformação, falta e planejamento, organização e déficit de empregados.
Em cidades como Salvador, Goiânia, Belo Horizonte e Recife, a fila dobrou o quarteirão, divulgou o jornal O Globo. “Pior que a fila, é a desinformação. Muita gente foi para as agências da Caixa sem saber se voltaria para casa com o dinheiro do Auxílio Brasil”, informou o jornal nesta sexta-feira (19).
“Desde o início do Auxílio Emergencial nós insistimos em, além de uma campanha nacional de informação, na cobrança por maior planejamento e organização no pagamento dos benefícios sociais. Mas já é costume do Governo e da direção do banco desrespeitar a população, deixando as pessoas horas nas filas. É desumano. Eles já tinham a receita do que fazer para não dar certo e repetiram”, disse Sergio Takemoto, presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae).
Déficit de empregados X mais clientes– A carência no quadro de pessoal, que passa de 16 mil trabalhadores, agrava a situação. Em julho deste ano, o presidente da instituição, Pedro Guimarães, anunciou a contratação de 10 mil novos colaboradores, sendo quatro mil empregados. Segundo o balanço do terceiro trimestre, a Caixa contratou apenas 756 pessoas e encerrou o período com 84.751 trabalhadores. Vale lembrar que o banco fechou o ano de 2018 com 84.952. Ou seja, em sua gestão, Pedro Guimarães não conseguiu ao menos equiparar o número de 2018.
Ao mesmo tempo, o número de clientes aumenta. Com base nos números do balanço do terceiro trimestre de 2021, divulgados nesta quinta-feira (19), são 1.722 clientes para cada empregado Caixa. No mesmo período em 2020, eram 1.615 – uma variação de 6,6%.
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) realizou um levantamento, a pedido da Fenae, que mostra a intensidade de trabalho nos principais bancos brasileiros. A proporção de clientes por empregado na Caixa é maior do que em todos os bancos analisados. Quando comparados os dois bancos públicos — Caixa Econômica e Banco do Brasil — cada empregado da Caixa atendeu, em média, mais que o dobro de clientes. No terceiro trimestre deste ano, são 1.722 clientes por empregado na Caixa; no Banco do Brasil, 826.
O atendimento por cliente da Caixa também é maior quando analisados os demais bancos Itaú Unibanco, Santander e Bradesco. Para o estudo, o Dieese utilizou os relatórios financeiros trimestrais dos bancos.
Pressão por metas de vendas – O presidente da Fenae critica a sobrecarga de trabalho e o descaso do banco com os empregados. “Dizer que os trabalhadores estão sobrecarregados já não faz sentido. Eles estão adoecendo, sendo cobrados por metas impossíveis de alcançar, pressionando a terem foco nas operações comerciais, na venda de produtos, meta de cartão de crédito. Tudo isso quando a população está desempregada e a situação econômica do jeito que está”, destacou.
As denúncias que chegam à Fenae soam como um pedido de socorro dos empregados. A pressão por metas submete os trabalhadores desde a constrangimentos, quando se veem forçados a vender produtos, como seguro de vida para pessoas que vão ao banco sacar seguro-desemprego até a ameaças de perda de função. (Leia matéria com depoimento dos empregados).
A Caixa figura entre as dez instituições financeiras mais reclamadas no ranking do Banco Central. Na reclamação sobre recusa ou dificuldade de acesso aos canais de atendimento convencionais, por exemplo, o banco aparece em primeiro, com 40 reclamações. Os dados são do terceiro trimestre deste ano.
Dia A de Atendimento / Matriz x Superintendências – No feriado do dia 15 de novembro, as Superintendências receberam comunicado da Matriz do banco orientando um dia de atendimento com foco na satisfação do cliente. Havia, inclusive, um roteiro proposto, como um vídeo do Superintendente de Rede para as suas vinculadas sobre o movimento e engajamento das equipes, além de acompanhamento da recepção aos clientes e o atendimento social. No entanto, a orientação chegou até o nível da Superintendência Executiva de Varejo (SEV) e não foi repassada para a Rede.
“Os ‘SEVs’ optaram por não encaminhar as orientações para as equipes. Isto confirma que o atendimento à população não é uma prioridade, mas sim os negócios. E fica a pergunta – ‘quem manda na Caixa? A presidência, as vice-presidências ou as superintendências?’”, questiona João A. (nome fictício), empregado que prefere não se identificar.
Ele explica que as demandas da matriz sempre significam pressão aos trabalhadores. No entanto, neste caso, a cobrança é pelo atendimento à população. “Nós, empregados, queremos mesmo que a Caixa nos cobre pela excelência no atendimento aos clientes e nos dê condições para isso. O que não dá para aceitar é o assédio pela venda de produtos e tirar dinheiro de uma população desempregada e endividada”, explica o empregado.