Eletrobras: é preciso deixar bem clara sua importância como empresa nacional

• Privatizar a maior empresa brasileira de geração e transmissão de energia elétrica é patrocinar um verdadeiro ´apagão´ no desenvolvimento do País •

A Eletrobras é a maior empresa brasileira de transmissão e geração de energia elétrica, com distribuição nos estados do Acre, Alagoas, Amazonas, Piauí, Rondônia e Roraima e participação em projetos binacionais no Uruguai, Paraguai e Bolívia. Além de majoritária no controle de suas subsidiárias, também detém metade do capital de Itaipu, líder mundial em energia limpa e renovável e que no ano passado atingiu a produção histórica de 103.098.366 MWh. Uma empresa estratégica, mas que pode, literalmente, deixar o País às escuras caso seja privatizada pelo governo golpista.

“O Brasil não pode prescindir da participação estatal no setor elétrico. Praticamente todos os grandes empreendimentos de geração e transmissão de energia do País têm as empresas do grupo Eletrobrás como protagonistas, pelo simples motivo de que o investidor privado não tem interesse em participar sozinho de empreendimentos de elevado grau de risco e tempo de retorno, como é o caso do setor”, explica o ex-representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Eletronorte e integrante da secretaria de Formação Sindical e Cultura do Sindicato dos Urbanitários do Distrito Federal, Íkaro Chaves Barreto de Sousa.

Ele recorda que, em 2001, quando a Eletrobrás deixou de participar da expansão do sistema, o resultado foi um apagão, com muitos prejuízos ao País. A preocupação por mantê-la pública, porém, parece passar longe do governo Temer. Distribuidoras da empresa já estão com venda planejada para até o fim de 2018. Também foi anunciada a intenção de venda de todas as participações em Sociedades de Propósito Específico (SPEs) de geração e transmissão de energia – entre elas estão empreendimentos estratégicos como as usinas de Belo Monte, Santo Antônio e Jirau.

Somada à venda das distribuidoras e de ativos, a empresa decidiu ainda não participar de nenhum novo leilão para expansão do sistema elétrico brasileiro, o que reduzirá seu papel preponderante. “A Eletrobras já privatizou a CELG de Goiás e criou o Centro de Serviços Compartilhados no Rio de Janeiro, que unificou os setores administrativos de todas as empresas sediadas naquele Estado (Furnas, Eletrobras Holding e Eletronuclear), relata Íkaro.

Ao implementar a unificação de processos administrativos a Eletrobras gera um ambiente propício para demissões em massa e acelera o desmonte da empresa, pois, lembra o sindicalista, o intuito é de fato reduzir a necessidade de pessoal para posterior demissão. Dispensas nas áreas administrativas também já atingiram a Eletronorte, CHESF, Eletrosul e CGTEE. O objetivo, publicamente declarado, é cortar 10 mil dos 21 mil trabalhadores do grupo. “O Plano de Demissão Voluntária está em andamento e trará perda significativa da memória técnica da empresa”, avalia Íkaro. A paralisia dos investimentos e a desestruturação das empresas do grupo resultam em prejuízos ao trabalho técnico e colocam em risco a qualidade dos serviços.

Restruturação do setor – Na avaliação de Íkaro, barrar essa ofensiva aos trabalhadores da empresa e à sociedade brasileira passa por não apenas interromper o desmonte em curso, mas, também, por uma reestruturação completa do setor, colocando a energia elétrica como um bem público essencial para a qualidade de vida do povo e o desenvolvimento nacional. “Além da mobilização da categoria é preciso que a sociedade se conscientize quanto aos perigos da destruição da Eletrobras”, aponta. Assim, as defesas das estatais como empresas de interesse público, de um novo modelo do setor elétrico que coloque a energia como bem público, do emprego e da retomada do desenvolvimento nacional são reivindicações que estão interligadas e são prioridades para o Sindicato dos Urbanitários do DF.

“Os sindicatos têm atuado historicamente junto ao Congresso Nacional, buscando reforçar a defesa do setor elétrico estatal. E hoje também atuamos junto com o Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas, pois o principal desafio é, para além da união dos trabalhadores das empresas estatais em defesas das empresas e do emprego, a conscientização de toda a sociedade quanto ao papel insubstituível do Estado como indutor do desenvolvimento”, destaca. Assim, é preciso deixar muito claro que no Brasil a iniciativa privada não atua em setores de infraestrutura de maneira independente nem em áreas pobres de baixo retorno financeiro – grandes bancos privados, por exemplo, passam longe desse tipo de financiamento, pois não têm qualquer preocupação com o desenvolvimento nacional.

O dirigente sindical lembra, porém, que mesmo as grandes empresas privadas brasileiras dependem de uma forma ou de outra das empresas estatais. “São os bancos públicos que as financiam, são estatais como a Petrobras que lhes fornecem combustíveis e são empresas como as do grupo Eletrobras que geram energia elétrica, não só para as pessoas mas também para a indústria, os serviços e a agricultura nacional”, aponta. Ou seja: privatizar a Eletrobras, além de causar demissões, queda na qualidade dos serviços e ferir de morte a soberania nacional também pode ser um péssimo negócio para o setor privado.

Fonte: Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas

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