O caminho escolhido pelo governo federal para conduzir a pandemia causou trágicas consequências para o Brasil. Somos, hoje, o segundo país com maior número de mortes por Covid-19 no mundo, representando 13% do total de mortes e 9,6% de casos da doença em todo o planeta. O cálculo é feito a partir de dados compilados pela Universidade Johns Hopkins, que monitora a situação global da pandemia.
Maria Maeno, médica e pesquisadora em Saúde do Trabalhador, atribui a calamidade da pandemia e da situação do país, principalmente, ao negacionismo do governo federal. “Vivemos uma verdadeira guerra, contra o vírus, contra as aglomerações, contra o negacionismo”, avaliou.
Não fosse o negacionismo do governo à Ciência e à doença, muitas das quase 463 mil mortes poderiam ter sido evitadas. Contrariando as orientações das autoridades sanitárias, o presidente Jair Bolsonaro negou a gravidade da doença, questionou a eficácia e desestimulou o uso das vacinas e das medidas de prevenção contra a Covid-19, como o isolamento social e uso de equipamentos de proteção. E atuou na contramão do mundo – lançou campanha contra as medidas de isolamento, incentivou adoção de tratamento precoce e medicamentos comprovadamente sem eficácia contra a doença.
“A atitude do governo tem sido em tudo o oposto do que deveria ter sido feito”, afirmou Maria Maeno. Ela destacou a importância das vacinas. “As autoridades federais devem priorizar a aquisição das vacinas. Não podemos continuar nessa inércia de deixar o vírus correr, pois o resultado tem sido catastrófico”.
Na esteira da espera por vacina estão os trabalhadores incluídos na categoria de serviços essenciais, como os empregados da Caixa, mas fora do grupo prioritário para receber a imunização. Além do pagamento do Auxílio Emergencial, que causa filas em frente às agências, os empregados voltaram, no dia 28 de maio, a pagar o Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e Renda (Bem).
A Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), com a campanha Vacina Já, mantém a cobrança pela vacinação dos trabalhadores. “Sem vacina e com muito trabalho, os empregados continuam expostos ao risco de contágio e as agências podem se tornar vetores de contaminação”, explicou o presidente da Federação, Sergio Takemoto.
Políticas públicas – Maria Maeno destacou que a falta de políticas públicas eficazes também tem prejudicado a população nesta pandemia. Um plano de diminuição de circulação de pessoas e de aglomerações para diminuir a transmissão do vírus só seria possível, em sua opinião, “se houvesse determinação de interrupção das atividades econômicas e manutenção somente das atividades essenciais à vida e não ao capital”, auxílio emergencial de 600 reais a todos que necessitam, proteção dos empregos e salários, fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) em todos os níveis, desde a atenção primária à saúde até a terapia intensiva. “Mas o que existe por parte do governo é uma sucessão de medidas que só aumentam a pobreza e a desigualdade social”, afirmou a médica.
A desigualdade social é vista nas ruas. Segundo artigo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em junho do ano passado, mais de 146 mil pessoas declararam, em fevereiro de 2020, estar em situação de rua no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico).
Outra pesquisa do Instituto apontava que esta população chegou a quase 222 mil brasileiros em março daquele ano e estimava um crescimento com a crise econômica acentuada pela pandemia. “A propagação do novo coronavírus aumenta a vulnerabilidade de quem vive na rua e exige atuação mais intensa do poder público”, alertava o estudo. A falta de dados ou de uma pesquisa mais recente sobre o assunto reflete a invisibilidade dessas pessoas perante os olhos do poder público.