Vários países adotaram modelo de renda básica emergencial inspirados pelo Bolsa Família, mas com valores muito superiores aos brasileiros. A Espanha aprovou no final de maio um programa que pretende beneficiar 850 mil famílias – cerca de 2,3 milhões de pessoas, segundo cálculo do governo. Com isso, as famílias passarão a receber entre 461 e 1.100 euros por mês. Estuda-se a possibilidade de a medida se tornar permanente. Outros exemplos são os Estados Unidos, com 1.200 dólares; Alemanha, 5.000 euros e, Canadá, 2.000 dólares. O pagamento do auxílio emergencial começou de forma conturbada. O primeiro erro foi o governo subestimar a realidade brasileira. Avaliação preliminar falava em 24 milhões de beneficiados, mas até o início de junho já havia 107 milhões de pedidos, em torno de 59 milhões aprovados, 42 milhões negados e 5,3 milhões em análise. Após cenário inicial de aglomerações gigantescas na porta das agências, de demora na análise dos pedidos e de mobilização de sindicatos, imprensa, entidades e movimentos, ajustes foram feitos e mesmo com algumas falhas persistindo, o processo deixou claro que é impossível o Brasil seguir em frente sem empresas públicas da envergadura, capilaridade e expertise como as da Caixa, que em tempo recorde criou aplicativo, canais e poupança digital para agilizar os pagamentos. Os empregados, mesmo sob forte pressão e risco de contágio, provaram seu compromisso, ficando na linha de frente e atendendo milhões de brasileiros. A Dataprev, empresa que faz parte da lista de privatização do governo e sofre com a falta de investimentos em datacenter, fechamento de áreas e corte de pessoal, enfrentou dificuldades operacionais pela magnitude do cadastro e do tempo curto para conciliar sistemas complexos. Mas mesmo neste cenário adverso já analisou milhões de pedidos, e é preciso destacar a qualidade de seu corpo técnico. E só agora, depois de muitas críticas, foi anunciado que os Correios, outra estatal centenária, “privatizável”, entra para contribuir com o cadastramento dos que não têm acesso à rede digital. Juntos, o auxílio e o benefício emergencial, para trabalhadores formais, atendem a 68,3 milhões de trabalhadores formais, informais e desempregados, o que equivale a 2/3 da atual População Economicamente Ativa (102 milhões de brasileiros). Nesta semana o ministro da Economia afirmou que o auxílio poderá ser mantido por mais dois meses com o valor pela metade, e que pretende alterar o Bolsa Família. Esses anúncios mostram descaso e crueldade com o povo brasileiro, e vão na contramão do que países do mundo inteiro estão fazendo. O caminho para o Brasil superar a crise passa por investimentos em habitação, infraestrutura, saneamento, em geração de emprego e renda, concessão de crédito, taxação das grandes fortunas, respeito a ordem democrática, com garantia de estabilidade social e institucional. O inverso é o caos, a fome, a intolerância, e isso a sociedade brasileira não pode permitir. Rita Serrano é mestra em Administração, representante dos empregados eleita para o Conselho de Administração da Caixa e coordenadora do Comitê nacional em Defesa das Empresas Públicas. |