A entrevistada dessa vez pela APCEF/RJ é Rita Serrano, representante dos empregados no Conselho de Administração da Caixa. Conhecida por sua marcante atuação e compromisso com a defesa da Caixa 100% pública e dos direitos dos trabalhadores, Rita é graduada em história, mestra em Administração e especialista em Governança pelo Instituto de Governança Corporativa. Ela está na Caixa desde 1989, onde exerceu várias funções. No movimento sindical teve atuação destacada na presidência do Sindicato dos Bancários do ABC. Atualmente, Rita Serrano é membro do Conselho Fiscal da Fenae e coordena o Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas. Confira abaixo o que ela diz sobre coronavírus, crise, Caixa, auxílio emergencial, empregados, APCEFs, empresas públicas etc.
APCEF/RJ – Recentemente você disse que em muitas agências da Caixa a situação é insalubre e os risco de contágio do coronavírus nas filas é enorme entre os trabalhadores e usuários. A quem cabe as medidas para resolver o sério problema? E por quê?
Rita Serrano – Ocorre que boa parte dos problemas das filas, está na falta de orientação sobre o benefício emergencial. O decreto do governo, que determinou as regras, não prevê alternativa de cadastro para as pessoas sem acesso a celulares ou internet; e a Dataprev, que é o órgão definido para o processamento, ainda não conseguiu dar conta dos milhões de pedidos que estão em análise. Além dos milhões que não receberam retorno do pedido. Uma das alternativas para resolver e agilizar seria a parceria do Governo Federal com estados e municípios, que poderiam orientar, cadastrar ou recadastrar os mais vulneráveis, com dificuldades. É emergente também que o Estado, se responsabilize por distribuição de máscaras nas filas, que se tornaram um problema de saúde pública.
Quais medidas devem ser tomadas no momento para garantir dignidade e proteção aos trabalhadores e clientes da Caixa?
Rita Serrano – Toda essa pressão desemboca sobre os trabalhadores que estão na linha de frente do atendimento, e muito embora contem com equipamentos de segurança, fruto de pressão das entidades, não é suficiente para dar conta dos milhões que se aglomeram nas unidades. Defendo que o governo utilize outras instituições públicas, como os bancos federais e Correios, para minimizar os riscos de contágio para empregados e clientes e dessa forma agilizar os pagamentos, diminuindo as filas.
Cabe também a direção da Caixa promover uma ampla campanha de mídia levar esclarecimentos aos beneficiários do Auxílio Emergencial e assim evitar aglomerações nas portas das agências?
Rita Serrano – Levei proposta para o Conselho de Administração de que ampla campanha de orientação fosse feita em março. Ocorre que, muito embora o banco venha usando de sobremaneira as redes sociais, não me parece que o foco tenha sido adequado para chegar aos mais vulneráveis e sinceramente, agora não sei mais se resolve, dado o caos que virou esse pagamento. Se os municípios assumirem as tarefas de orientar, com a proximidade, talvez seja mais eficiente.
Nas visitas que você tem feito às agências, existe constatação de sofrimento dos empregados? Qual o nível?
Rita Serrano – Além de estar indo às agências, recebo mensagens diárias de colegas do Brasil todo, muitos desesperados, com medo de contagiar a si e a família, medo de agressão física, trabalhando sob pressão e muitas horas. Não é possível que essa situação se mantenha, temos todos que pressionar o governo e o banco para buscar soluções que não prejudiquem a qualidade de trabalho e vida das pessoas dessa forma. A única coisa boa dessa situação é ver a solidariedade e comprometimento social que os empregados da Caixa e os terceirizados têm. É admirável e esse, sem dúvida, é nosso grande diferencial e mérito.
De que forma as entidades representativas dos empregados da Caixa podem contribuir mais efetivamente para amenizar a forte pressão sofrida pelos trabalhadores que estão se redobrando nas agências?
Rita Serrano – Além do que já fazem, pressionando, negociando, fiscalizando. Penso que devem ampliar o leque de cobrança para os governos em todas as esferas da nação e os parlamentares, para assumirem a responsabilidade do cuidado com os trabalhadores que atuam na pandemia e com a população mais pobre e desempregada. As entidades sindicais e associativas são fundamentais para esse enfrentamento da crise, mas também na defesa da democracia, tão ameaçada no último período e também na atuação para que a Caixa e demais serviços e empresas públicas, não sejam privatizados, sucateados, como vinha ocorrendo.
No Rio de Janeiro, a APCEF/RJ e o Sindicato dos Bancários têm visitado agências e denunciado irregularidades que põem em risco a saúde de empregados e clientes. Qual a importância das entidades representativas nesse momento de pandemia?
Rita Serrano – Andei muito com os diretores do sindicato, AGECEF e APCEF no Rio, durante meu mandato, em especial com o Matileti, irmão de luta, e sem dúvida, esse trabalho é essencial para garantir direitos e dignidade aos trabalhadores.
Muito se divulga sobre os riscos do coronavírus, mas pouco se fala sobre a saúde mental dos trabalhadores que estão mais expostos por não poderem seguir a quarentena.
Rita Serrano – A pandemia por si só já pode ser fator de depressão, agonia e ansiedade, mesmo quem tem que ficar em casa isolado sofre, pior são os trabalhadores bancários, comerciários, da saúde, vigilantes e tantos outros, que trabalham com medo constante. De fato, é uma realidade complicada, por essa razão a atuação das entidades é tão necessária.
A crise causada pela COVID-19 expõe a importância dos bancos públicos e desmascara os que defendem a privatização da Caixa?
Rita Serrano – Sem dúvida, no momento de catástrofe, os arautos da privatização, que defendem o tal Estado Mínimo, “descobriram” que sem o SUS, sem universidade pública, sem banco público, sem a Petrobras, sem a Eletrobrás, não é possível superar as crises. Destaco que se hoje o Estado conta com um banco público do porte da Caixa, que pode ser usado em momentos de calamidade pública e para a execução de políticas anticíclicas, é porque ao longo de muitos governos, incluindo o atual, os empregados, entidades e movimentos organizados empunharam a bandeira da defesa de que a instituição se mantivesse pública, dada as iniciativas de privatização.
Qual mensagem você deixa aos empregados da Caixa?
Rita Serrano – Primeiro dizer que tenho esperança de que essa situação, seja usada pela humanidade para refletir sobre o mundo que queremos deixar para as futuras gerações, porque o coronavírus desnudou a miséria, a desigualdade social, e não é possível, continuar dessa forma, precisamos ajudar a construir um país mais justo e fraterno para todos. Os empregados nunca se furtaram ao compromisso com o povo brasileiro, carregam nas veias o DNA da missão pública, no sentido mais nobre da palavra, mas merecem respeito e reconhecimento.