“Sem os bancos públicos não há desenvolvimento”. Esta foi a mensagem principal do painel expositivo sobre a defesa dos Bancos Públicos, realizado nesta sexta-feira (28), no hotel Holiday Inn, em São Paulo. A mesa inicial foi um subsídio para as discussões que serão realizadas durante a 19ª Conferência Nacional dos Bancários, que acontece entre hoje e domingo (30).

O cientista político e professor da UERJ, Emir Sader, abriu os trabalhos ao dizer que o debate central da sociedade não deve estar na dicotomia entre estatal ou privado, mas sim, no embate das esferas pública e mercantil. “O neoliberalismo diz que as opções fundamentais são ou estatal ou privado. Eles reivindicam um conceito muito bonito, a esfera privada, que envolve a liberdade individual das pessoas. Mas quando eles privatizam uma empresa, como a Vale não dão nas mãos dos trabalhadores, mas entregam ao mercado. Comprou quem tem dinheiro. A esfera com que eles trabalham não é a esfera privada, mas a esfera mercantil”, explicou.

O acadêmico citou como exemplo deste debate a educação e a saúde pública. “A educação, em vez de ser um direito para todos, é para eles, uma mercadoria. Quem tem dinheiro paga uma escola de qualidade. Da mesma forma estes setores são contra o SUS, o programa ‘Mais médicos’. Eles não querem um SUS de qualidade que atenda a todos. Ao contrário, defendem um sistema privado, no qual quem tem dinheiro paga um plano de saúde de qualidade”,acrescentou.

Disse ainda que um estado forte pode ser bom ou ruim para os trabalhadores. “O estado na ditadura era forte, mas brutalmente contra a democracia, contra os direitos do trabalhador, contra a proteção do mercado interno do país. Era um poder forte que não era a favor do interesse público. Ao contrário, escancarou o mercado com a entrada do capital estrangeiro, interveio em todos os sindicatos, o santo do chamado milagre econômico era o arrocho salarial, por isso, a burguesia teve as suas mais altas taxas de lucros da história naquele período”. Destacou também que a importância dos bancos públicos para o fortalecimento dos direitos dos trabalhadores e da cidadania. “Os bancos públicos têm uma lógica totalmente contraditória a dos privados. Por que os tucanos privatizaram os bancos estaduais? Porque eles não fazem políticas sociais? Quando se fecha agências da Caixa, como agora, se reduz programas como o Minha Casa, Minha Vida, o Bolsa família. A Caixa cresceu no bojo da ampliação das políticas sociais. O banco privado não vive do financiamento social, da pesquisa, de ampliar o consumo. Vive da venda de papéis, do endividamento de pessoas e empresas, da especulação”. Criticou ainda a atual política econômica do  governo Temer.  “Este é o governo que parece que fracassa. Promove o desprestígio do governo, do congresso Nacional, para prestigiar o capital financeiro, especulativo, internacional. Não querem que o Brasil seja uma nação, mas apenas um mercado. E o sistema financeiro é fundamental para esta lógica neoliberal”, conclui.

Para Fabiano Felix, eleito como Conselheiro de Administração Representante dos Empregados do Banco do Brasil (Caref), o momento histórico que estamos vivendo terá replicações políticas e econômicas nas nossas próximas gerações. “É um ataque sistêmico à classe trabalhadora, que foi forjado contra a democracia de todo um país. É natural que num momento de grande crise política, as propostas mais conservadoras encontraram um solo fértil. Propostas como as reformas trabalhistas e da Previdência. E os bancos públicos têm um papel efetivo nesse projeto que rejeita o social e faz uma verdadeira doutrina neoliberal. A prova é o debate que estamos encontrando atualmente dentro do Banco do Brasil, muito nocivo para a estrutura do banco. É uma apologia às grandes propostas tecnológicas e um descaso total com as agências, com o atendimento à população e com os trabalhadores.”

Fabiano lembrou outros momentos de grande dificuldade vividos no Brasil. “Sabemos que esse tipo de política é cíclica, ela sempre volta reformada. Então podemos lembrar o governo FHC para afirmar que suprimir os bancos públicos tem um preço social muito alto. O papel do banco público nos rincões do país transcende o aspecto econômico. Uma agência tem um papel estratégico para a sociedade. A agência não funciona apenas como intermediação financeira, mas como investidora da região.”

O Caref do BB completou. “As ações estão em pleno curso e a força da nossa militância é que vai nos manter firmes na defesa dos bancos públicos, um banco de desenvolvimento, extremamente importante para a sociedade brasileira.”

Maria Rita Serrano, Conselheira de Administração eleita pelos empregados da Caixa e coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas, concorda. “A lógica deles é conhecida, nós sabemos, a mesma lógica da década de 1990. O que temos de entender é que é uma lógica muito mais rápida, diferente daquele momento, em que resistimos por dez anos. Por isso, temos que aumentar as nossas ações e ganhar agilidade para combater as nossas perdas.”

Para Rita Serrano, quando se fala em ataque aos bancos, é um ataque aos direitos e a tudo aquilo que é público. “Temos de ter a consciência que o serviço público, a empresa pública, a concepção daquilo que é público, tudo isso está jogo neste momento. A política adotada pelo governo para um banco, como a Caixa e o Banco do Brasil, é a mesma para todas as empresas públicas. Eles vão enfraquecer para privatizar. Porém, por mais difícil que seja a conjuntura, ela é rica também, temos de usar o debate acumulados em todos esses anos para pensar estratégias diferentes de enfrentamento. Tenho certeza que nós vamos superar, pois temos muita condição de voltar a vencer, basta nos organizarmos e lutarmos”, finalizou.

Fonte: Contraf-CUT

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