No Brasil, a desigualdade social se combate com Caixa Econômica Federal 100% pública e valorização dos direitos dos empregados. Essa reflexão norteou os primeiros debates no 38º Congresso Nacional dos Empregados da Caixa (Conecef), que está sendo realizado em São Paulo, com a participação de 200 delegados presenciais e outros 200 de forma on-line de todo o país. O primeiro painel, “Defesa dos bancos e das empresas públicas e defesa da Caixa 100% pública, ocorreu nesta quinta-feira (9) e teve como debatedores Maria Fernanda Coelho (ex-presidenta do banco entre 2006 e 2011), Rita Serrano (representante dos empregados no Conselho de Administração da Caixa) e a deputada federal Erika Kokay (PT/DF).
Maria Fernanda, depois de lembrar um pensamento do Papa Francisco, segundo o qual “quem tem memória sabe lutar”, defendeu a necessidade urgente da população e dos trabalhadores pensarem os rumos da Caixa pública e com caráter social. Segundo ela, entre os anos de 2003 e 2015, durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff, a Caixa teve um papel importante na implementação de várias políticas públicas, a exemplo do crescimento da rede de atendimento, pagamento do Bolsa Família e outros programas sociais, além do acesso ao crédito, com os bancos públicos passando a ofertar mais crédito do que as instituições financeiras privadas.
“Essa situação, sem dúvida, reflete positivamente no processo de valorização dos bancos e do patrimônio público. Enquanto isso, os ataques às instituições públicas desde o governo Bolsonaro abrem caminho para políticas de privatização”, avaliou. Maria Fernanda afirmou que a crise sem precedentes vivenciada pelo país nestes tempos sombrios permite sonhar com 2023, para que a Caixa recupere sua capacidade de fomentar o desenvolvimento e combater as desigualdades sociais.
Para ela, a Caixa traz a dimensão de um banco público, que, se bem conduzida, contribui decisivamente para o projeto de reconstrução do Brasil. Maria Fernanda elogiou a realização do 38º Conecef e conclamou os delegados e delegadas do evento a aprovarem reivindicações que norteiem a retomada da função pública da Caixa, cujo protagonismo e papel social são fundamentais para a sociedade brasileira.
Ao deparar-se com uma mesa composta por maioria de mulheres, Rita Serrano começou sua participação no 38º Conecef elogiando a maneira inovadora na organização do movimento. Aproveitou a ocasião para agradecer o apoio das entidades representativas na reeleição para o CA da Caixa, embora ainda não tenha tomada posse no cargo, devido ao descaso na gestão do banco. “Ganhar uma votação com mais de 91% me dá mais energia para seguir em frente. Os trabalhadores precisam ser mais respeitados”, declarou. E elogiou também a eleição de representantes comprometidos com a gestão compartilhada na Funcef, “o que mostra o protagonismo dos participantes da Fundação”.
No primeiro debate no Conecef deste ano, Rita Serrano disse que o desmantelamento do patrimônio público vai além das empresas e dos bancos públicos, atingindo saúde, educação e outras áreas vitais para o país. A conselheira foi taxativa: “Há um processo de destruição do Brasil. Se tudo for privado, como pretende o atual governo federal, fatalmente estaremos privados de tudo”.
Rita Serrano, que é uma das coautoras do livro “O Futuro é Público”, publicado por iniciativa da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae) e do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas, revelou que países liberais como os EUA e a Grã-Bretanha, devido ao fracasso das privatizações, estão adotando políticas de retorno dos recursos públicos para o controle do Estado.
A conselheira reiterou a necessidade de olhar o Brasil por outro ângulo, tendo em vista que este governo é uma tragédia em todos os sentidos, e os trabalhadores são protagonistas da própria história. “Precisamos ousar. Queremos uma Caixa que humanize as condições de trabalho, valorize os empregados e colabore com o desenvolvimento sustentável do país”, argumentou. Rita Serrano defendeu também a ampliação do espaço de controle social, pois “a perenidade da Caixa 100% pública e social interessa à sociedade e desperta o interesse de melhorar, cada vez mais, a qualidade de vida”.
A deputada Erika Kokay, que também é empregada da Caixa, criticou os ataques deste governo contra as instituições e o processo democrático, defendendo em seguida a necessidade de resistência organizada contra esse retrocesso. No Brasil de hoje, segundo a parlamentar, há ausência de investimentos públicos, necessários para um projeto de desenvolvimento nacional soberano.
Erika Kokay contestou o fato de todas as empresas públicas estarem sob ameaças de privatização, a exemplo da Eletrobras, Petrobras e da própria Caixa, “todas fundamentais para qualquer projeto democrático, para políticas de bem viver e para um país que respeita seu próprio povo”. Segundo a parlamentar petista, o governo Bolsonaro não consegue enfrentar a luz e opera sempre na escuridão. “A face mais cruel deste governo é o retorno da fome. Por isso ninguém aguenta mais Bolsonaro e Guedes (ministro da Economia). Outubro está logo ali e vamos derrotar o descaso, a crueldade e a incompetência”, enfatizou.
Para a deputada, os ataques que a Caixa pública e social vem sofrendo visam o objetivo de abrir caminho para a privatização. Exemplo disso, de acordo com ela, foi a recente aprovação pela Câmara dos Deputados do fim da exclusividade do banco na operação de penhor, “um atentado e um golpe contra o povo brasileiro”. Sobre o tema, Erika Kokay lembrou que a Caixa tem avaliadores de penhor com capacidade e habilidade para cumprir a função de maneira competente. “Joga-se tudo isso fora e tira-se o monopólio que assegura lisura, segurança, capacidade de avaliação, crédito barato, porque é um benefício que atinge grande parte da população de baixa renda”, defendeu.
A parlamentar repudiou a tentativa do governo Bolsonaro de desmontar a instituição por dentro, com a adoção de políticas para reduzir o tamanho do banco e seu papel social. E denunciou também o ataque aos empregados e empregadas, com mudanças bruscas de atividades, cobrança de metas abusivas, descomissionamentos sumários, fim de postos de trabalho e transferências compulsórias, naquilo que visa quebrar os trabalhadores e trabalhadoras para lograr êxito na entrega do patrimônio público.
Ao defender a resistência contra o retrocesso, Erika Kokay foi direta ao ponto: “Não aceitaremos mais nenhum tipo de golpe contra a democracia neste país”.