O papel dos bancos públicos não apenas agora no auge da pandemia, mas nos próximos meses ou anos será determinante e deve se dar em duas frentes, na sustentação das políticas públicas e no crédito à população. A opinião é da ex-presidente da Caixa e empregada de carreira aposentada, Maria Fernanda Coelho, que juntamente com o ex-ministro Ricardo Berzoini, Sérgio Rosa, ex-presidente da Previ e Gustavo Rocha, secretário-geral da Contraf participou, na sexta-feira (29) da videoconferência “A Importância dos Bancos Públicos na Retomada da Economia”.
“Talvez em nenhum momento na história a sociedade tenha percebido como agora a importância dos bancos e das políticas públicas, de entidades como o SUS ou empresas como a Caixa. Sem a atuação nessas duas frentes não haverá horizonte de recuperação”, entende ela. Os debatedores concordaram que é preciso buscar barrar as tentativas de privatização de ativos de bancos públicos, como é o caso do projeto encabeçado pelo deputado Enio Verri (PT-PR) e com apoio de vários partidos de oposição, o PL nº 2715/20, que prevê a suspensão das privatizações das estatais por um ano depois do fim da pandemia do Covid-19.
Ricardo Berzoini afirmou que os bancos públicos, associados aos fundos públicos, como o FAT e o Fundo de Garantia, têm grande capacidade de influenciar e interferir positivamente na vida da população brasileira. “É preciso destacar o papel que o crédito exerce para alavancar pequenos negócios, microempresas, atividades individuais, além de oferecer às pessoas a oportunidade de adquirirem materiais para melhorar a sua qualidade de vida. No Século XX, o BB e a CEF se consolidaram na vida dos brasileiros e no Governo Lula e Dilma foram direcionados para o microcrédito, para o crédito rural, com amplo financiamento do pequeno agricultor e para políticas como o Minha Casa, Minha Vida (MCMV), por exemplo. Quando o Lula assumiu a gente exportava US$ 80 bi/ano, com a ajuda do BB conseguimos exportar mais de US$ 240 bi/ano”, afirmou. Ele também ressaltou a importância da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) para financiar os investimentos em pesquisas nos mais diversos setores e destacou que o BNDES, aportando capital ou financiando, ou fazendo os dois tem o papel de estruturar cadeias produtivas e de identificar empresas que tenham potencial para desenvolver o País.
O ex-presidente da Previ, Sérgio Rosa, acredita que um governo que queira implementar uma agenda democrática a e popular precisa incorporar os trabalhadores públicos e das estatais em seu projeto de gestão dessas empresas. “Temos que ter estruturas financeiras diversificadas para romper essa concentração bancária absurda, de crédito caríssimo e uma seleção ruim de risco e de tomador de crédito e aprofundar as vocações que os bancos públicos têm em dar apoio às pequenas cidades, as cadeias de negócios e de pensar em produtos bancários diferenciados para, assim, acelerar o crescimento social e econômico de maior parte da população brasileira”, entende ele.
A experiência do Banco do Nordeste (BNB) foi relatada pelo secretário-geral da Contraf, Gustavo Machado: “o Banco do Nordeste (BNB), antes do governo Lula e Dilma, era centralizado nas capitais, e que hoje está presente em todo o interior do Nordeste, sendo o maior financiador da agricultura familiar do país. O banco tem sua base de lucratividade nas pequenas operações (aquelas até R$ 5 mil, com até 24 meses de prazo). Essa linha tem taxa de inadimplência menor do que 1%. São pessoas que compram uma máquina de costura; materiais para uma bodega. Esses trabalhadores fazem a economia rodar. Só dá para fazer uma retomada da economia, se a gente olhar para os pequenos. Se a gente olhar para o pequeno, a gente consegue fazer uma estruturação de forma sustentável”, afirmou.
A videoconferência faz parte de série Diálogos, promovidos pela Veredas Inteligência Estratégica, em parceria com o Instituto Direito à Esquerda (IDE) e Crivelli Advogados.