Como diz um ministro do Supremo Tribunal Federal, a impressão que a direção da Caixa passa é que retornaram, ontem, de uma viagem a Marte: desde terça-feira, dia em que se iniciou o pagamento do auxílio-emergencial 2021, a direção da empresa não fala em outra coisa que não seja a “necessidade” de os empregados atuarem ativamente na venda de partes do próprio banco, promovendo o IPO da Caixa Seguridade.

O assunto tem sido tratado em lives do presidente Pedro Guimarães e dos VPs Paulo Ângelo e Celso Leonardo Derziê, que estabeleceram metas que podem chegar às dezenas de milhões de reais em reservas de subscrição das ações para cada gerente.

Para os administradores da empresa, parece que não existem outros problemas, como a pandemia (que já vitimou mais empregados nestes primeiros meses do ano que em todo o ano passado), as demandas das agências por recursos para comprar EPIs, a ausência do reforço dos vigilantes e recepcionistas adicionais prometidos, a inércia da gestão para encaminhar demandas rotineiras como a campanha anual de vacinação contra a gripe ou as tão comentadas filas nas agências, que aumentam o risco de contágio dos empregados e da população e contribuem para desgastar a imagem da Caixa perante a sociedade, que podia ser minimizada, ainda, com a contratação de pessoas que estão aguardando o chamado do presidente e poderiam estar atendendo o público.

Para Pedro Guimarães e companhia, o foco deve ser a venda da Caixa Seguridade, o que foi traduzido com o aumento do peso do item no sistema de mensuração de resultados, o Conquiste, a despeito de todo o caos vivido pelos empregados e pela sociedade.

“Não adianta o presidente Pedro Guimarães aparecer no programa ‘Encontro’ para falar do pagamento do auxílio-emergencial com a Fátima Bernardes e, internamente, a orientação dada aos empregados ser de vender patrimônio público. A Caixa deveria, como em 2020, suspender a cobrança de metas durante, no mínimo durante, os primeiros meses do pagamento do auxílio. Ao invés disso, os empregados estão relatando um aumento absurdo na pressão para vender as ações da Caixa Seguridade, inclusive, com ‘incentivos’ para que os próprios empregados façam a compra”, relata o diretor-presidente da Apcef/SP, Leonardo Quadros. “As contradições entre o discurso e a prática da direção do banco são cada vez mais frequentes”, conclui.

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