Olhar o passado da educação e da inclusão social para população em situação de vulnerabilidade socioeconômica, pensar e intervir no presente, planejar o futuro para a construção de um país melhor, com cidadania, democracia e sem desigualdade. Esse foi o propósito que mobilizou a parceria entre a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), a Associação do Pessoal da Caixa do Amazonas (Apcef/AM) e a ONG Moradia e Cidadania em torno do projeto “Um olhar para o futuro”, encerrado em 5 de janeiro de 2022.
Reforço escolar para mais de 50 crianças e adolescentes da comunidade ribeirinha Nossa Senhora de Fátima, em Manaus (AM), para sanar dificuldades de leitura, escrita e operações de matemática básica, além de aulas de educação financeira e ambiental, foi uma ação decisiva para o desenvolvimento da interatividade social, fator de importância para quebrar ciclos de pobreza e vulnerabilidade social.
“Nesse aspecto, a educação escolar é uma etapa fundamental para o aprendizado, a formação da personalidade e do universo cognitivo das crianças e dos adolescentes”, pontuou Sergio Takemoto, presidente da Fenae. É assim, de acordo com ele, porque o processo educacional pode ser definido como um conjunto de referências com as quais o indivíduo percebe, reconhece e interpreta o mundo.
O presidente da Apcef/AM, Paulo Roberto da Costa, avaliou de bom para ótimo o desenrolar do “Um olhar para o futuro” em comunidades ribeirinhas do Amazonas, falando da gratificação de ver pais e crianças participarem felizes dessa iniciativa de caráter educacional, “apesar de todas as dificuldades que essas pessoas enfrentam no dia a dia”.
“O objetivo do projeto foi alcançado. Há depoimentos emocionados de pais e crianças declarando que, no futuro, irão recordar-se de que participaram de um projeto que teve importância em suas vidas”, ponderou. Paulo Roberto mostrou-se satisfeito com o fato de que a parceria movimentou empregados da Caixa associados da Apcef/AM, que tiveram participação voluntária nas atividades programadas, com dedicação de alguns dias do seu tempo.
Realidade mais ampla e plural
Com base na parceria da Fenae e da Apcef/AM com a ONG Moradia e Cidadania, o projeto “Um olhar para o futuro” envolveu crianças e adolescentes que passaram a se relacionar com outras e com os professores, fora do ambiente de suas casas, percebendo que fazem parte de uma realidade mais ampla e plural, com regras, direitos, deveres e necessidade de respeitar e ser respeitado. Tudo começou em 5 de agosto do ano passado e, além das mais de 50 crianças e adolescentes beneficiadas, alcançou indiretamente mais de 100 outras de comunidades ribeirinhas e indígenas às margens do rio Tarumã Mirim.
Além de reforço escolar em leitura e escrita, o projeto da parceria da Fenae e da Apcef/AM com a Moradia e Cidadania desenvolveu também atividades temáticas com a utilização da cartilha “Competências para a Vida”, elaborada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Com isso foi possível estimular a participação dos adolescentes em assuntos de direitos humanos, a formação da identidade e a construção da autonomia. Outro objetivo do “Um olhar para o futuro”, plenamente alcançado, segundo seus organizadores, foi o de discutir o respeito e valorização da diversidade, a exemplo de como conhecer e reivindicar direitos, além de estabelecer relações afetivas e sustentáveis no âmbito familiar e da comunidade.
“Somos muito gratos à Fenae e à Apcef/AM pela parceria na realização do projeto “Um olhar para o futuro”, principalmente por juntarmos forças, saberes e recursos, estreitando nossa relação com entidades representativas da Família Caixa”, lembrou Laurêncio Körbes, presidente da ONG Moradia e Cidadania. Ele confirmou que o projeto teve resultados positivos, por levar benefícios às crianças e famílias, que precisam de apoio para poderem acessar melhor seus direitos e usufruírem de uma qualidade de vida mais digna.
Marnízia Dias, assistente social da ONG Moradia e Cidadania/AM, fez a gestão do projeto “Um olhar para o futuro”, contando para isso com a colaboração de duas monitoras e uma coordenadora pedagógica. Ela explicou que, em relação a essa iniciativa pioneira, todas as etapas foram realizadas, apesar das dificuldades enfrentadas pelas próprias escolas contempladas. “Todo o processo foi desafiador. Até então não havia na comunidade beneficiada qualquer projeto de cunho social. Conseguimos despertar o olhar das crianças e dos adolescentes, que se tornaram empoderadas com a aquisição de novos e diferentes conhecimentos, na perspectiva de ensinar o aluno a ler o mundo para poder transformá-lo, como propõe o educador Paulo Freire”, completou.
A dinâmica das visitas à comunidade Nossa Senhora de Fátima, local do projeto, foi marcada por algumas dificuldades estruturais. Para chegar ao porto da comunidade, o tempo gasto era de 30 minutos em transporte fluvial, acrescido de mais 15 em transporte terrestre. No local, as aulas de reforço escolar se somaram à Festa Cidadã, que acontecia uma vez por mês em cada comunidade próxima à beneficiada, tanto em área ribeirinha quanto indígena.
O sucesso da iniciativa levou a solicitações para que o projeto “Um olhar para o futuro” passasse a ser desenvolvido em muitas outras comunidades. Um dos legados deixados foi a da participação direta das famílias. Isso poderá estimular o protagonismo dos próprios moradores da comunidade.
Histórico de um projeto inovador e criativo
Realizado entre o período de 5 de agosto de 2021 e 5 de janeiro de 2022, o projeto “Um olhar para o futuro” não se resumiu apenas a uma proposta de ensino. A educação se aliou a dois outros pilares: inclusão social e promoção da cidadania.
Sergio Takemoto sintetizou o propósito da iniciativa: “apresentou e debateu as diferentes facetas da educação do futuro, naquilo que pode ser definido como um processo inovador e criativo. O projeto que resultou da parceria da Fenae e da Apcef/AM com a ONG Moradia e Cidadania foi uma forma de resistência e enxergou diferentes caminhos para a inclusão social”.
Para Denise Viana Alencar, membro do Comitê Gestor de Projetos da parceria Fenae/ONG, a união da Fenae e Apcefs com a ONG Moradia e Cidadania é um exemplo claro de solidariedade e transformação. “É gratificante ver a dedicação e o amor de todos os envolvidos no projeto. Isso é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Nossa preocupação é melhorar a vida das pessoas e possibilitar a elas instrumentos para que possam ser autoras das mudanças em suas vidas”, salientou.
O palco onde as ações se desenvolveram fica a 20 quilômetros da praia de Ponta Negra, situada em Manaus (capital), com acesso único por rota fluvial. É na localidade, conhecida como Projeto Art Malote, onde as mulheres-mães aprendem o ofício de corte e costura. Registre-se ainda a participação das famílias e do resto da comunidade ribeirinha envolvida, o que poderá despertar um interesse ainda maior com as parcerias locais.