A decisão judicial que determinou o fim da terceirização nas unidades da Caixa foi uma grande conquista para o movimento sindical, pois a luta para regularizar a situação do banco é antiga. O cronograma de reestruturação da área de retaguarda, entretanto, foi feito de acordo com o padrão Caixa: com uma fórmula incorreta.

"O processo está tumultuado e apresen-ta uma série de problemas, sendo o princi-pal a proporção de um empregado contratado a cada três terceirizados desligados" – observou o coordenador da Comissão Executiva dos Empregados (CEE/Caixa), Jair Pedro Ferreira. Com essa média, a Caixa piora as condições de trabalho dos empregados.

Uma grande agência em São Paulo, por exemplo, faz cerca de 40 mil autenticações ao mês, sendo que quase metade desse número acontece apenas na RETPV. Imagine esse serviço sendo feito por dois trabalhadores ao invés de seis…

As Superintendências Nacionais aloca-rão os concursados de acordo com a "necessidade" de cada unidade. As agências menores, com menos autenticações por mês, sairão no prejuízo, recebendo ainda menos empregados.

No interior do Estado de São Paulo há casos preocupantes: em uma unidade, apenas um empregado será contratado para substituir seis; em outra, dois empregados substituirão sete terceirizados.

As agências maiores também sofrerão, pois, ainda assim, não haverá substitutos para todos os terceirizados perdidos. Isso sem contar a possibilidade de haver desligamento de outros empregados e pedidos de aposentadoria.

Como manter a produtividade?
Com o desligamento dos terceirizados, todas as autenticações passam a ser responsabilidade da agência e o fato de que não há novas nomeações de empregados para a função de caixa é um empecilho enorme. Como os empregados irão lidar com o volume de trabalho? Não é possível que todas as tarefas sejam feitas na mesma quantidade de tempo. Antes, os caixas ainda contavam com a ajuda dos Técnicos de Operação de Retaguarda (TOR) para fazer as autenticações.

Isso só vem a agravar e tornar mais frequentes os casos de extrapolação da jornada de trabalho, incorreções no Sipon, problemas de saúde como estresse e Ler/Dort… Ou a mão-de-obra terceirizada é tão desqualificada que um empregado conseguirá render mais do que três?

As intermináveis filas
A Caixa é uma empresa que atende não só seus clientes, mas os trabalhadores formais e beneficiários de programas sociais. Com esse leque de serviços, o caixa já luta contra o relógio e a falta de empregados nas agências, especialmente na hora do almoço. Com as atividades de RETPV passando para a agência, como o trabalhador vai atender os clientes, dar conta das autenticações e ainda cumprir sua meta? Isso dará início a uma nova era de cobranças abusivas de metas?

Soma-se a isso o fato de que, a partir de 13 de abril, o governo federal começou a registrar famílias para o Programa Minha Casa, Minha Vida. Com o plano de habitação, que prevê a construção de um milhão de casas, a demanda na Caixa aumentará consideravelmente.

Além de os empregados já possuírem uma grande carga de trabalho e as agências estarem sempre lotadas, como a Caixa espera que os prazos para execução do programa – estipulados em cinco dias para análise de risco, quinze para análise de engenharia e trabalho social e dez para análise jurídica – sejam cumpridos com tamanha deficiência de trabalhadores? Canais como o autoatendimento e as lotéricas, que deveriam ser uma alternativa ao cliente, passarão a ser uma obrigação?

Representantes dos empregados já se reuniram com a CEE/Caixa, em negociação, para exigir providências e aguardam um posicionamento do banco. "A APCEF/SP também enviará um ofício à direção da Caixa, em 16 de abril, cobrando uma solução imediata para essa situação e pedindo a criação de vagas de caixa. É inaceitável que, com o fim da terceirização, uma reivindicação tão antiga, a Caixa não tenha se preparado para esse momento, uma vez que foi dado um prazo mais do que longo para a regularização" – comentou o diretor-presidente da APCEF/SP, Sérgio Takemoto.

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