Bancos tratam emprego com descaso. Negociação prossegue nesta quinta-feira

O descaso foi a tônica dada pela Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) para as reivindicações relativas ao emprego e condições de trabalho, apresentadas pelo Comando Nacional dos Bancários durante a primeira reunião da terceira rodada de negociações da campanha nacional 2010, ocorrida ontem, 8 de setembro, em São Paulo. A discussão sobre o tema seguirá nesta quinta-feira, dia 9 de setembro.
Na reunião com os bancários, os banqueiros afirmaram não considerar prioridade o debate acerca da proteção contra demissões imotivadas, mais contratações e fim dos correspondentes bancários. O Comando Nacional apresentou aos representantes dos bancos o resultado da Pesquisa sobre Emprego Bancário que a Contraf-CUT e o Dieese vêm realizando desde o início do ano passado.
Por essa pesquisa, os números relativos a 2009 e aos primeiros seis meses de 2010 revelam que os bancos desligaram 48.295 bancários, o que corresponde a mais de 10% da categoria. As contratações, por outro lado, não acompanharam nem de perto os resultados astronômicos do sistema financeiro. Para um lucro líquido de R$ 24,7 bilhões no primeiro semestre deste ano, os banqueiros criaram 9.048 postos de trabalho, equivalente a 0,61% de 1, 47 milhão de empregos gerados pela economia brasileira.
De costas para essa realidade de terra arrasada, a Fenaban recusou-se a discutir uma solução para o problema. A alegação dada é de que o emprego é uma questão de gestão dos bancos, que pode ser debatido instituição financeira a instituição financeira, mas não como pauta da campanha unificada.
O debate sobre a terceirização foi remetido para a mesa temática sobre o assunto, que já realizou quatro reuniões este ano. Os representantes dos trabalhadores apresentaram uma lista de áreas terceirizadas (back office, tesouraria, compensação, call center, internet banking, abertura e processo de contas correntes, gestão eletrônica de documentos e processamento de empréstimos e créditos diversos. As discussões serão iniciadas em uma dessas áreas. Até agora, há informações sobre os diversos setores onde ocorrem as terceirizações, o número de trabalhadores envolvidos e os acordos específicos como determinados bancos.
Em relação aos correspondentes bancários, a reivindicação da categoria bancária é de universalizar os serviços bancários e acabar com esse tipo de bancarização que discrimina as pessoas pela renda. Na rodada com a Fenaban, o Comando Nacional deixou claro que os correspondentes bancários têm sido usados pelos bancos para reduzir custos, precarizar e segmentar o atendimento, empurrando os clientes de baixo poder aquisitivo para padarias, açougues e farmácias, enquanto mantêm nas agências e postos os clientes de maior renda. Foi citada como exemplo a Caixa Econômica Federal, que recentemente começou um novo modelo de correspondente que se assemelha a uma franquia, o que, com certeza, “essa não é a bancarização que a sociedade quer”.
O Comando Nacional contestou a posição defendida pelos bancos, de modelo que combine correspondentes bancários e não bancários. Para os banqueiros, correspondente não bancário não é banco, mesmo recebendo documentos para abertura de contas e efetuando pagamentos, além de outros serviços.
Ainda na negociação desta quarta-feira, os bancários cobraram dos banqueiros solução para as barreiras que dificultam a entrada e ascensão profissional de mulheres e negros nas instituições financeiras. Essa discriminação já foi evidenciada pela Pesquisa de Emprego Bancário, que revelou o seguinte: embora o número de mulheres e homens admitidos esteja bem equilibrado – 50,3 e 49,7%, respectivamente – a remuneração inicial é visivelmente inferior para as trabalhadoras – R$ 1.770 contra R$ 2.600 em favor dos bancários.
Foi detectada também discriminação quanto à ascensão profissional. A Pesquisa de Emprego Bancário mostra que apenas cinco a 10% das mulheres ocupam cargos superiores nos bancos. Houve acerto para que o debate do tema seja retomado antes da conclusão das negociações da campanha salarial 2010.
Em relação à cláusula do emprego, a campanha nacional 2010 reivindica proibição de demissões imotivadas, mais contratações, condições dignas de trabalho, igualdade na remuneração, reversão das terceirizações, qualificação e requalificação profissional e fim dos correspondentes bancários, mediante substituição por agências e postos de atendimento.

Avaliação
Para Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional dos Bancários, a postura intransigente da Fenaban empurra a categoria bancária para a greve. Os banqueiros estão recusando-se a discutir questões que os bancários consideram da maior importância, como o emprego, que afeta diretamente itens como saúde, condições de trabalho e remuneração, além da melhoria do atendimento aos clientes.

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