A especialista em Economia do Trabalho e Sindicalismo pela Unicamp, diretora do Sindicato de São Paulo e pesquisadora do Centro 28 de agosto, Ana Tércia Sanches, participou do painel de abertura da Conferência Nacional dos Bancários, iniciado nesta sexta-feira, dia 25.
A palestrante apresentou um cenário sombrio para o emprego da categoria diante da utilização das novas tecnologia pelos bancos. Para ela, a implantação das novas tecnologias no sistema financeiro nacional só gerou benefícios para os bancos.
“Não somos contra o avanço tecnológico, pois todas as novidades são muito boas. No entanto, os bancos apropriam-se delas, cortam curtos e aumentam seus lucros e não repassam nada à sociedade”, disse. Ana
Segundo Ana Tércia, as funções que precisam do trabalho humano, canais tradicionais de atendimento, serão reduzidos pelos bancos a um quarto do total em cinco ano. E, ainda, em pouco tempo, não haverá mais a necessidade de caixas. Os próprios bancos admitem que irão exterminar boa parte do emprego dos bancários apenas eliminando os caixas.
As áreas administrativas também poderão ser reduzidas e, segundo as estimativas dos bancos, em 80%.
O impacto da automação também foi abordado pelas técnicas do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos)/Subseção Contraf-CUT Barbara Vasquez e Vivian Machado.
Segundo Barbara, no final da década de 1990 se deu a conclusão do processo de automação bancária, que teve como principal impacto cortes de emprego e terceirizações, gerando intensificação profunda na rotina de trabalho.
A partir de 2011, os bancos passaram a investir ainda mais em tecnologia e na expansão dos correspondentes bancários para combater o crescimento da oferta de trabalho. Segundo o Dieese, 34.466 postos de trabalho já foram cortados por cinco grandes bancos do país, desde março de 2011.
Essa é uma tendência que tem se mantido em 2014. Barbara citou dados da última pesquisa sobre emprego bancário divulgada pela Contraf-CUT e Dieese, no dia 18 de julho, com base nos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, que aponta saldo negativo de 621%. O único banco a destoar nesse cenário é a Caixa Federal.
Outro fator apontado pela palestrante Ana Tércia, trata-se do fato de que além de exterminar o emprego dos bancários, as novas tecnologias também são responsáveis pelo adoecimento dos empregados.
“Pelo celular, trabalhamos no trânsito, em casa, durante a apresentação de balé da filha e até no banheiro. Até a pressão por produtividade aumentou e tudo isso tem acabado com a saúde física e mental dos bancários”, conta Ana Tércia.
Claro que as novas tecnologias facilitaram a vida de quem utiliza dos serviços bancários, no entanto, Ana Tércia alerta para o fato de que, apesar de boa parte dos serviços serem feitos pelo pelos próprios usuários, continua-se pagando altas tarifas e taxas por isso.
Além disso, ainda há toda uma geração que tem dificuldades em acessar o atendimento eletrônico, além daqueles que preferem o atendimento pessoal. Hoje, é estratégico para os executivos dos bancos eliminar os clientes de baixa renda, que são praticamente expulsos das agências, empurrados para os correspondentes bancários, que atuam sem qualquer segurança.
Quinta onda
O cenário atual do sistema financeiro é definido pelas técnicas do Dieese como a "quinta onda" de inovação bancária, marcada por meios eletrônicos de pagamentos.
Com 273 milhões de celulares habilitados no Brasil, os bancos estão apostando na plataforma mobyle pyament, que viabiliza os meios eletrônicos de pagamentos. "Inclusão financeira não é o mesmo que bancarização. O objetivo deste modelo é tirar o papel moeda de circulação", alertou Vivian Machado.
Através de aplicativos de smartphone já é possível fazer, por exemplo, compensação de cheque via celular. Para Barbara Vázques, o grande desafio, hoje, dos trabalhadores do sistema financeiro é como lutar contra o avanço desse processo.
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