Especialistas e representantes de entidades sindicais, jurídicas e de saúde se reuniram, no último dia 18, no Seminário Saúde Mental e Trabalho Bancário, em São Paulo, para debater o impacto da organização do trabalho nos bancos sobre a saúde mental dos trabalhadores. O evento, promovido pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, em parceria com a Fetec-CUT/SP, trouxe à tona dados alarmantes e propostas para enfrentar o adoecimento da categoria.

Adoecimento mental em números
Dados apresentados no seminário revelaram a gravidade do problema: em 2022, 43,72% dos afastamentos por transtornos mentais registrados pelo INSS foram de bancários, embora a categoria represente apenas 2,75% dos empregos formais no Brasil. No estado de São Paulo, 28% dos bancários utilizam medicação controlada, segundo consulta realizada durante a Campanha Nacional dos Bancários 2024.

A secretária de Saúde do Sindicato, Valeska Pincovai, alertou para a pressão exercida pelas metas abusivas e pelo assédio moral institucionalizado, que estão entre os principais fatores que contribuem para o sofrimento psíquico. “Temos bancários que nos procuram em estado de desespero, lidando com casos graves de ansiedade e depressão”, relatou.

Pressão no ambiente de trabalho
Além das metas abusivas, o uso de tecnologias para monitorar e cobrar resultados tem intensificado a pressão sobre os bancários. Segundo a professora de Saúde Pública da USP, Andréia Garbin, a constante vigilância e a cobrança por metas criam um ambiente competitivo que afeta diretamente a subjetividade dos trabalhadores, levando ao que ela definiu como “sofrimento ético-político”.

Já a médica Maria Maeno, da Fundacentro, destacou como o ambiente bancário é caracterizado por isolamento e individualismo, dificultando a integração dos trabalhadores em processos coletivos, como o movimento sindical. “O trabalho deixou de ser um direito social para se tornar algo torturante”, afirmou a advogada Leonor Jakobsen.

Digitalização e impacto no setor
A economista do Dieese, Rosângela Vieira, apresentou dados que evidenciam a transformação do setor bancário nos últimos anos. O aumento das transações digitais — que passaram de 52% em 2016 para 79% em 2023 — e os investimentos em tecnologia, que dobraram nos últimos cinco anos, resultaram no fechamento de agências e na extinção de cargos tradicionais, como caixas e escriturários.

Essa digitalização, embora eficiente para os bancos, tem aumentado a pressão sobre os trabalhadores que permanecem no setor, além de agravar os índices de adoecimento. Para a economista, a redução da jornada de trabalho é uma das principais alternativas para enfrentar esses desafios.

Propostas e avanços
O seminário também destacou avanços conquistados pela categoria. Mauro Salles, secretário de Saúde da Contraf-CUT, mencionou a mudança na cláusula da Convenção Coletiva, que passou a tratar o assédio moral e sexual como questões institucionais, e não apenas como conflitos entre gestor e subordinado.

Outras bandeiras, como o direito à desconexão e a redução da jornada de trabalho, foram apontadas como essenciais para preservar a saúde e a qualidade de vida dos bancários.

Próximos passos
O evento contou ainda com a participação de nomes como Dimitre Moita, psicólogo do trabalho, o procurador do Ministério Público do Trabalho Patrick Maia Merísio e Hermenegildo Pires Alves, superintendente regional do INSS Sudeste. Em suas falas, os especialistas reforçaram a necessidade de uma mudança estrutural na organização do trabalho bancário para reduzir os índices de adoecimento mental.

A íntegra do debate está disponível no canal do YouTube do Sindicato dos Bancários de São Paulo. Clique aqui para assistir.

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