Representar os trabalhadores no Conselho de Administração da Caixa não tem sido uma tarefa fácil para Maria Rita Serrano. Única eleita e empregada do banco, entre sete indicados pelo governo, a conselheira tem sofrido ataques e perseguições devido à sua atuação em defesa do papel social do banco e dos direitos dos trabalhadores. Resistência tem sido a marca do seu trabalho. Em entrevista à Fenae, Rita destaca a importância do apoio que recebe das entidades representativas dos trabalhadores e relata os desafios para o novo mandato. “Como boa brasileira, eu não desisto nunca, vamos em frente juntos, porque juntos somos muito melhores”.
FENAE- Você concorreu com 30 candidatos, foi reeleita no primeiro turno com mais de 90% dos votos. Como avalia esse resultado?
RITA SERRANO- São vários fatores. Em primeiro lugar, é fruto do trabalho próximo que tenho junto aos colegas e entidades, dialogando e prestando contas das minhas posições, meus votos no conselho e acolhendo as demandas. O apoio das entidades, a união de propósito de todos, também foi preponderante na votação. Agora sem dúvida alguma, ao votar em mim, os empregados deram um grito de basta, de resistência às iniciativas do governo para privatizar a Caixa, contra a piora das condições de trabalho e ao aumento das cobranças e pressões.
FENAE- Quais dificuldades têm enfrentado para exercer seu papel de conselheira eleita pelos trabalhadores?
RITA SERRANO- Ser a única eleita e empregada, entre sete indicados pelo governo, durante muito tempo a única mulher e, com voz destoante da maioria, não é uma tarefa fácil, exige muita resiliência, capacidade de argumentação, estudo e firmeza, é um desafio constante. Mas, o principal problema é a pressão que a direção do banco e do CA tentam exercer contra mim, abrindo processos de conflito de interesse, questionando minha autonomia em apoiar o movimento dos trabalhadores e em tornar pública minha posição contrária as privatizações das operações.
FENAE- A defesa da Caixa como banco público e forte foi uma das marcas da sua atuação. A empresa corre risco de privatização e o que os trabalhadores podem fazer para barrar esse ataque?
RITA SERRANO- Já faz tempo que tentam privatizar a Caixa. Em 2015, no debate do PLS 555 e em 2017, na mudança estatutária do banco, tentaram aprovar a Caixa S/A e já abrir capital, nós conseguimos derrotar. No atual governo a estratégia mudou, criaram várias subsidiárias para privatizar a partir das operações. Não à toa, desde 2019, boa parte do lucro da Caixa, é resultado de venda de ativos. Eu diria que só não conseguiram executar tudo o que pretendiam até o momento, justamente graças as entidades, empregados e a população que tem apego a Caixa. Essa ação conjunta derrotou a MP 995/2020 e a CGPAR 23. O caminho deve se ampliar com ações junto a sociedade, autoridades, movimentos e Congresso nacional.
FENAE- As eleições de 2022 podem impactar no futuro da Caixa?
RITA SERRANO- Sem dúvida, o controlador da Caixa é o governo, se o projeto de desmantelamento do patrimônio público brasileiro se mantiver, teremos muito mais dificuldades em manter a Caixa pública, integra e sustentável.
FENAE- Em plena pandemia, os empregados da Caixa se desdobraram para atender milhões de brasileiros, desamparados pela crise econômica, social e sanitária. Apesar disso, eles têm sofrido com a pressão por metas exacerbadas, sobrecarga de trabalho e assédio moral. Como seu mandato tem feito a defesa dos trabalhadores?
RITA SERRANO- Ao invés de valorizados pela hercúlea tarefa, os empregados ficaram à deriva e as condições de trabalho pioraram muito no último período, infelizmente é fato. Levo para o conselho e direção da Caixa, as demandas dos colegas e entidades, tentando sensibilizar para que mudem esse estado de coisas. Nas últimas semanas propus a criação de um plano de realocação de pessoal, dado o grande pedido de transferências, e encaminhei propostas dos PCDs para resolver problemas de acessibilidade. Venho atuando e votando contra a retirada de direitos, como exemplo, a colocação de teto no estatuto para o Saúde Caixa e ameaças à Funcef. Entendo que o mais importante, é realizar ações em conjunto com as entidades de representação, para dessa forma fortalecer a organização dos empregados.
FENAE- Por que é importante as empresas públicas terem um representante dos empregados no Conselho de Administração?
RITA SERRANO- A presença no conselho de administração tem por objetivo levar o olhar dos principais stakeholders, que são os trabalhadores, para a direção da empresa, democratizar a gestão, ampliar a fiscalização, melhorar sua governança e garantir o futuro da instituição. Os maiores interessados na manutenção, sustentabilidade e responsáveis pela construção cotidiana da Caixa, são seus empregados, nada mais justo que influenciem nas decisões. Perto de legislações como da Alemanha, onde metade dos conselhos de empresas públicas e privadas é eleito, o Brasil ainda está muito atrasado, aqui se elege um, somente nas estatais. Precisamos avançar.
FENAE- Quais são os desafios para o próximo mandato?
RITA SERRANO- São muitos. O principal é ampliar nossa frente de batalha para defender a Caixa Pública e a melhoria das condições de trabalho e vida dos empregados e prestadores de serviço. Ampliar a sinergia com os colegas, entidades e, acima de tudo, garantir que o Brasil volte para os trilhos do desenvolvimento, com a Caixa e as empresas e serviços públicos, cumprindo o papel de melhorar a vida da sofrida população brasileira, com a pandemia superada e com todo nós voltando a sonhar. Como boa brasileira, eu não desisto nunca, vamos em frente juntos, porque juntos somos muito melhores.