Medo de ser reinfectado, desalento, sensação de que seu esforço não tem valor, cansaço e esgotamento físico e mental. Essa é a realidade comum aos empregados da Caixa que enfrentaram a Covid-19 e estão na linha de frente do atendimento à população nas agências. “Vivemos um paradoxo de prestarmos um serviço essencial, que não pode parar, que tem que atender a população para minorar a crise, as perdas, o sofrimento de quem mais necessita, o que é muito digno e nos orgulha. Mas ao mesmo tempo, na hora de receber a vacina, para ter uma proteção, para continuar trabalhando, para ficar salvaguardado em relação à vida, a gente não é prioridade”, afirma Raul Campelo Marques Vaz.
Atendente de caixa na agência Conde da Boa Vista, uma das mais movimentadas do centro de Recife, na capital pernambucana, ele diz não ter dúvida de que contraiu a Covid-19 no local de trabalho, no final de abril de 2020, logo após retornar de férias em que ficou isolado com a mulher e duas filhas em um sítio. “Comecei a trabalhar na segunda e na quinta-feira senti os primeiros sintomas. Sou caixa e estamos na linha de frente, tenho certeza de que peguei lá. O risco de contágio nas agências é absurdo, quase todo mundo se infectou onde trabalha”, relata ele, que tem 42 anos, é casado, e pai de duas filhas.
Ele espera que com a inclusão da categoria bancária como prioritária no Plano Nacional de Imunizações (PNI), os governos realmente agilizem a vacinação dos que prestam um serviço essencial, dos poucos que nunca pararam desde o início da pandemia. Raul acredita que essa inclusão é fruto de muita luta dos empregados e suas entidades: “Infelizmente, o presidente atual da Caixa, Pedro Guimaraes, é colado com Bolsonaro, mas em momento algum usou essa proximidade para uma interlocução junto ao presidente para que bancários tivessem essa prioridade. Ele nos chama de heróis de crachás, mas nunca fez questão de premiar e honrar esses heróis de crachá com solicitação de vacina. Sem contar que ainda impôs e mantém metas absurdas de vendas de produtos em plena pandemia”, lamenta Raul Campelo.
Tesoureira na agência Campo de Marte em Santana, São Paulo, capital, Tânia Regina Basile Rigo, 50 anos, concorda que as metas absurdas agravam a situação de medo e fragilidade dos empregados: “as metas absurdas estão deixando a gente ainda mais maluca. Não dá para ficar correndo atrás de metas enquanto as filas crescem e atendemos com mais de um terço em home office. Às vezes faço o trabalho de caixa para que a única atendente do horário possa almoçar e é frustrante escutar o cliente reclamar de ter só um empregado atendendo, mas estamos no nosso limite”, afirma ela, que contraiu Covid-19 em maio do ano passado e ficou 15 dias na UTI.
Solteira e sem filhos, ela acredita que tem sorte por não ter ficado com sequelas, mas sabe que muitos colegas enfrentaram complicações da doença. “Continuamos sem vacinas, atendendo o triplo de pessoas com menos pessoal. Sabemos o quanto nosso trabalho é importante, mas está ficando insuportável, é muita pressão”, afirma ela.
“Depois que você passa dias na UTI, vendo pessoas morrendo ao seu lado, é claro que a cabeça fica a mil quando você volta a trabalhar, porque a exposição nas agências é total”, opina o atendente bancário Alexandre Eneas Silva Santos, 48 anos, que trabalha na agência Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. Ele contraiu a Covid e transmitiu para a esposa, que teve sintomas leves e para a filha de apenas quatro anos, que felizmente ficou assintomática.
Alexandre revela que redobra os cuidados para não se infectar novamente e não vê a hora de ser imunizado: “não tive que ser intubado, mas tomava duas injeções na barriga por dia, para não ter o sangue coagulado, para controlar a glicose, que ia para o espaço ao ver pessoas morrendo ao meu lado. Por isso, fico triste de ver que não entendem a importância da vacinação dos bancários ou mesmo de ver pessoas recusando-se a tomar uma vacina, escolhendo qual vão tomar. Posso garantir que essa doença não é mole não, ela é traiçoeira e num momento você está bem e noutro já está muito mal”, alerta. Na agência em que trabalha, o efetivo de 50 pessoas foi reduzido em pelo menos um terço durante a pandemia.
A Caixa desconsiderou todo o esforço e dedicação dos empregados durante a pandemia, avalia o presidente da Fenae, Sergio Takemoto, e destaca que a empresa chegou a justificar que os empregados não haviam cumprido as metas e, por isso, não iriam receber a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) da forma como determina o Acordo Coletivo vigente. “Foram os empregados da Caixa que atenderam a população, fazendo o pagamento de todos os benefícios emergenciais, enfrentando o risco da Covid-19 e recebem como prêmio a diminuição da PLR Social. A atual direção agiu com consciência para prejudicar os empregados e depois faz o discurso vazio da valorização. Valorização é vacinação já para todos, essa é a nossa luta”, ressaltou Takemoto.
Desde o início da pandemia, a Fenae, junto com as entidades representativas, movimento sindical e associativo, tem se mobilizado para incluir os empregados da Caixa no Plano Nacional de Imunização (PNI).
:: Acesse a página da Campanha Vacina Já da Fenae e saiba mais sobre as ações para incluir os empregados da Caixa como prioritários na vacinação contra a Covid-19.