Em conversa com a Diretoria Executiva da Fenae e presidentes das Apcefs, nesta quinta (22), o economista, professor e pesquisador, Marcio Pochmann falou sobre a conjuntura política atual e da necessidade de construir novas narrativas para o futuro
O encontro permitiu uma análise profunda da conjuntura política atual, dos elementos que autorizaram a instalação de um “sistema jagunço” de governabilidade no país e da necessidade da construção de novas narrativas por parte dos movimentos sociais, sindicais e do próprio Estado, que considerem as expectativas e necessidades de uma sociedade cada vez mais desigual e heterogênea.
Segundo o intelectual, para analisar o presente é fundamental revisitar o passado e como ponto de partida para a discussão citou o fim do sistema escravocrata em 1888 e o abandono de uma sociedade agrária e a migração para um projeto urbano industrial, a partir da década de 1930.
“Fomos nos acomodando a partir do que vem de fora. A globalização foi desmontando o sistema interestatal, empurrando o país para reformas trabalhistas que tiraram os direitos dos trabalhadores; nos fez enxergar a revolução tecnológica como uma ameaça e, hoje, temos um país menos industrializado que antes. Até para o agronegócio dependemos de insumos, maquinário e tecnologias que vem de fora”, destacou.
Na avaliação de Pochmann, a situação com relação a baixa industrialização, dependência internacional e uma economia ancorada em serviços, deixa o país cada vez mais longe do crescimento e do desenvolvimento.
Para além disso, Pochmann ressaltou ainda que o país vive um apagão estatístico e que na medida que a informação está sendo captada, processada e analisada por instituições privadas, o país, literalmente, navega a partir das orientações dessas instituições e de seus interesses. “Estamos sendo governados por empresas privadas que capturam as informações que fornecemos voluntariamente”.
Na opinião do pesquisador, este cenário de fragilidades, desigualdades agudas e de incapacidade do estado em comunicar com os cidadãos, permitiu a instalação de um “sistema jagunço” de governabilidade que cresce, sobretudo, nos espaços metropolitanos, impondo uma nova sistemática de relações e resolução de conflitos baseada no personalismo e no Estado Mínimo ou mesmo inexistente, o que abre espaço para um novo modelo, onde o “fanatismo religioso e o bandidismo social” encontram lugar.
“Nosso discurso é racional e ao mesmo tempo inconveniente. Não dá esperança. Não dialogamos, não deixamos falar e também não ouvimos”, disse Pochmann. Ele acrescentou que o mundo vive uma transformação que deslocou a compreensão sobre o trabalho e os trabalhadores, especialmente agravada pela pandemia e que apresentou uma “massa sobrante de um capitalismo sem vigor”.
Apesar da fala realista, o encontro não teve por objetivo apresentar o pior dos cenários. Marcio Pochmann disse que apesar de o momento ser de fragilidade, de polarização e de uma enorme fratura social verificada na incapacidade de diálogo e da construção de narrativas de pertencimento é também o momento de oportunidade singular para fazer mudança.