A América Latina e seus trabalhadores têm a partir desta quarta-feira, 7 de outubro, mais uma expressiva afinidade: a luta em defesa das empresas e dos serviços públicos, para que não fiquem nas mãos de corporações privadas e sejam, de fato, um instrumento de desenvolvimento, cidadania e democracia. O encontro histórico que firma esta unidade foi realizado pela manhã, virtualmente, celebrando o Dia Internacional do Trabalho Decente e o Dia Continental para a Democracia e Contra o Neoliberalismo, com organização de várias entidades, entre as quais a UNI Américas e o Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas, do Brasil.

Foi o 1º Encontro Internacional em Defesa das Empresas e Serviços Públicos – Fórum das Américas em Defesa dos Empregos, Empresas e Serviços Públicos de Qualidade. Mediado por Márcio Monzane, secretário regional da UNI Américas, e por Geici Maiara Brig, do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal de Blumenau (Sintraseb), que representou os jovens, reuniu relatos de representantes sindicais em várias categorias e entidades; gestores (como por exemplo a ex-presidenta da Caixa, Maria Fernanda Coelho) e políticos, caso de Ernesto Murro, ex-ministro do Trabalho e Seguridade Social do Uruguai. “Esta iniciativa é inédita, uma excelente oportunidade de discutir a importância da defesa das empresas públicas em todo o mundo”, ressaltou o diretor-presidente da Apcef/SP, Kardec de Jesus Bezerra.

“Os serviços públicos são um direito, não mercadoria”, anunciou o secretário geral da Central Sindical das Américas (CSA) Rafael Freire na abertura do encontro, acrescentando que os sindicatos e a organização nos locais de trabalho têm papel fundamental para a construção da democracia.

Os representantes brasileiros Rita Serrano, coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas, e Claudio Gomes, da Confederação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores nas Indústrias da Construção e da Madeira (Conticom) relataram a situação que o Brasil atravessa, com crises simultâneas nas áreas política, financeira, ambiental e sanitária.

“Vivemos um momento triste e difícil, com milhões de mortos, mostrando da forma mais cruel o tamanho da desigualdade no País. Temos um governo conservador e neoliberal que coloca o Brasil numa rota de declínio social, econômico e ambiental”, denunciou Rita, esclarecendo sobre ações do comitê que coordena e destacando a necessidade de se disputar a narrativa sobre o papel do Estado, informando a sociedade sobre as consequências das privatizações. A importância dessa comunicação também foi valorizada pela ex-presidenta da Caixa e pelo ex-ministro uruguaio. “Há uma grande despolitização e é preciso que a linguagem seja acessível”, avaliou Murro.

“Todos os indicadores sociais do Brasil pioraram. Hoje 1/3 da população vive a insegurança alimentar, ou seja, fome”, lembrou Maria Fernanda, ao apontar a grande importância de políticas, empresas e serviços públicos tais como o SUS, a Caixa e programas como o Minha Casa, Minha Vida.

Já o representante do Conticom resgatou o controvertido processo da Lava Jato, que levou desemprego ao setor da construção civil, e o descaso do atual governo brasileiro com a atuação do BNDES, agora sem condições de financiar obras e maquinários e favorecendo as exportações, em especial da China.

Pela educação falou o representante da Internacional Educação (IE) Comberty Rodrígues. Ele denunciou o uso de fundos públicos para o lucro privado, um modelo de estado que cresce pela AL no qual se reposiciona o privado e se usa o dinheiro público, deteriorando o Estado e fortalecendo o privado.

A ressignificação do que é público e a taxação das grandes fortunas também ganharam destaque neste primeiro encontro, assim como a necessidade de se construir democraticamente um novo contrato social de trabalho e um Estado cujas políticas públicas tenham como papel central favorecer a população excluída pelo atual modelo econômico. Ao final, foi divulgado documento conjunto em prol destas iniciativas (leia no site do comitê – link abaixo).

Para a coordenadora do comitê, Rita Serrano, a diversidade das categorias e países reunidos, vinculados pela unidade da pauta em defesa do que é público, é um grande trunfo para a classe trabalhadora e a busca pela democracia no continente latino-americano. “É com grande esperança que seguimos adiante. Esperança que, como escreve Santo Agostinho, tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem. A indignação nos ensina a não aceitar a coisas como estão e, a coragem, a mudá-las”, reafirmou.

O comitê deve divulgar em breve novas informações derivadas deste primeiro encontro internacional, entre elas, já antecipou a coordenadora, a edição da cartilha Fakes & Fatos sobre empresas públicas, produzida pela entidade, na versão em espanhol.

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