Dirigentes sindicais bancários brasileiros participaram, na semana passada entre os dias 25 e 28 de setembro, em Lima, no Peru, de cinco eventos organizados pela Uni Américas Finanças: a  14ª Reunião Conjunta das Redes Sindicais de Bancos Internacionais, a 5ª Reunião da Aliança Latino-americana em Defesa dos Bancos Públicos, a Reunião do Comitê Executivo de UNI Américas Finanças, o Foro Internacional sobre Digitalização no Sistema Financeiro e o Foro Internacional de Pensões – no Sistema Financeiro e sua relação com o sistema de aposentadorias.

Os eventos contaram com a presença da presidenta mundial da UNI Finanças, Rita Berlofa, do secretário regional da Uni Américas, Marcio Monzane, do presidente da UNI Américas Finanças, Sergio Palazzo, do diretor regional da UNI Américas Finanças, Guillermo Maffeo e do diretor da APCEF/SP, Valter San Martin.

“Foi importante participar destes eventos pela oportunidade de entrar em contato com bancários de outros países da América Latina e ver que a luta é muito parecida, ‘é a luta do trabalhador contra o capital”, apontou Valter.

Foro Internacional sobre Digitalização no Sistema Financeiro

No dia 25 de setembro, na abertura do Foro Internacional sobre a digitalização no sistema financeiro, o secretário de Relações Internacionais da Contraf-CUT-CUT, Roberto von der Osten, relatou os temas que mais preocupam os bancários brasileiros.

O evento contou com palestras de Jorge Curazao e Efrain Guerra, especialistas peruanos em bancos digitais, que abordaram as experiências digitais na América Latina, com foco no Peru e sobre o ponto de vista dos trabalhadores. Eles relataram que os bancos estão transitando da utilização do atendimento físico para o uso de plataformas eletrônicas de maneira rápida como o principal canal de comunicação dos clientes com as instituições.

É um processo autoritário no qual nem todos os clientes se adequam a estas novas ferramentas. Estes aspectos refletem a necessidade do desenvolvimento de atividades de inclusão dirigidas a segmentos da população com dificuldades de acesso, para a verdadeira universalização dos serviços financeiros.

Na sequência, o professor Hebert Garrido, da AEBU Uruguai, falou sobre digitalização e Fintech. “Fica evidente que as tecnologias utilizadas pelas Fintech têm permitido que a digitalização avance com muita velocidade e com muita competitividade entre elas e o sistema financeiro formal. Mas a ausência de marcos regulatórios e supervisão adequada tem deixado várias etapas a superar. Desde marcos legais e concorrenciais do sistema financeiro até as questões laborais e de representatividade sindical.”

Já Wagner Nascimento, coordenador da Comissão de Empresa do Banco do Brasil, revelou o processo de digitalização do Banco do Brasil.

Em seguida, aconteceram debates com intervenções de participantes da Costa Rica, Colômbia, Chile, Peru, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, relatando o grau de digitalização nos seus países e os reflexos sobre o número de empregos.

5° Reunião da Aliança Latino-americana em Defesa dos Bancos Públicos

No dia 26 de setembro, a 5° Reunião da Aliança Latino-americana em Defesa dos Bancos Públicos iniciou seus debates fazendo uma análise de conjuntura de todos os países presentes, avaliando o momento político e a situação dos bancos públicos em cada país.

Foi apresentada pela coordenação da Aliança, a compilação dos dados sobre os bancos públicos da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Uruguai e Peru, sistematizada pela subseção do Dieese da Contraf-CUT.

Gustavo Tabatinga, secretário Geral da Contraf-CUT, discorreu sobre o delicado momento político eleitoral no Brasil, com uma análise da correlação de forças e dos cenários sobre o possível resultado das eleições. Informou os presentes sobre a recente negociação da Campanha Nacional dos Bancários do Brasil com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), suas dificuldades, seus resultados e a influência que a negociação dos bancários teve sobre as negociações de outras categorias.

Dionisio Reis, coordenador da Comissão Executiva dos Empregados (CEE) da Caixa falou sobre o momento atual da Caixa, da luta contra a privatização, da luta em defesa da proteção da saúde dos empregados e do que pode significar o resultado das eleições para a empresa.

Wagner Nascimento expôs o momento em que passa o BB, descreveu as duras negociações e os rumos que o BB pode tomar após o resultado eleitoral, onde vários candidatos falam em privatizar as empresas públicas brasileiras.

Ainda na quarta-feira passada, 26 de setembro, a 14ª Reunião das Redes Sindicais de Bancos Internacionais (Itaú, BBVA, Banco do Brasil, Santander e Scotia Bank) debateu a atuação dos bancos em cada país, seus investimentos em alterações na legislação trabalhista e investimentos em tecnologia. Foi debatido estratégias para a defesa do emprego, saúde e condições de trabalho, agências digitais e terceirização.

Dia de Mobilização no Centro Financeiro de Lima e Comitê Executivo UNI Américas Finanças​

Já no dia 27 de setembro, foi realizado o Dia de Mobilização no Centro Financeiro de Lima, e no período da tarde a reunião do Comitê Executivo UNI Américas Finanças.

Pela manhã, os bancários peruanos montaram manifestações em protesto às demissões e aos atos antissindicais que os bancos vêm praticando no País e tiveram o apoio das delegações internacionais que participaram do evento promovido pela UNI.

Por quatro horas, os bancários percorreram as ruas do Centro Financeiro de Lima, indo até as sedes dos bancos BBVA Continental, Scotia Bank, MIBANCO, Scotia Financeira e outros numa movimentada passeata que teve também um momento de apoio à continuidade democrática no Brasil e uma homenagem ao ex-presidente Lula.

Aliança Latino-americana em Defesa da Seguridade Social

No dia 28 de setembro, a Aliança Latino-americana em Defesa da Seguridade Social reuniu-se num fórum para debater o sistema financeiro e sua relação com os sistemas de pensão.

Desde o início dos anos 90 diversos países latino-americanos tentam fazer reformas nos seus sistemas de pensões. Embora apresentem diferenças, todos os novos modelos têm em comum o mesmo paradigma: o sistema de previdência social adotado no Chile no início dos anos 80.

O foco principal destas reformas não tem sido procurar um sistema que traga mais segurança aos trabalhadores. O objetivo buscado tem sido a redução do déficit público e para assegurar maior vínculo entre contribuições e aposentadorias. Isto levou vários países a abandonar os regimes previdenciários de repartição em direção ao de capitalização individual.

José Ricardo Sasseron, representante da Contraf-CUT, apresentou o financiamento e o funcionamento da Previdência Pública e universal do Brasil e elencou os motivos pelos quais precisamos protegê-la contra o desmonte e contra a privatização.

No Brasil o sistema de Previdência Social é contributivo e de repartição simples, este último que significa um fundo único que atende aos benefícios de qualquer segurado que atenda aos requisitos previstos pela legislação, tem intensa participação do Estado em sua composição orçamentária e é de participação obrigatória dos trabalhadores.

Estes benefícios se resumem a: a) Pensão por Morte, b) Aposentadoria por Idade (urbana e rural), c) Aposentadoria por Invalidez (comum e acidentária), d) Auxílio-Doença (comum e por acidente de trabalho), e) Aposentadoria por tempo de contribuição, f) Assistência médica.

Os debates, que sucederam as apresentações, concluíram que a entrega da previdência a empresas privadas que gerem aposentarias e pensões sob a ótica do lucro não resolveu muitos dos problemas antigos e criou outros.

Os novos fundos privados se constituíram iguais entre si em quase tudo e foram incapazes de resolver a evasão das contribuições. E, apesar dos mecanismos criados, em caso de quebra do fundo de pensão ou da seguradora, continua sendo o Estado que na prática tem que arcar com os prejuízos. Ou seja, os bancos ganham durante a acumulação, e se quebrarem, o Estado fica com os prejuízos.

 

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