Terceiro passo para desmotivar os empregados e destruir uma empresa pública

O desmonte de uma empresa pública passa por diversas etapas, que estão sendo discutidas na série de matérias especiais que a APCEF/SP vêm produzindo. O terceiro ponto é acabar com a saúde dos trabalhadores.

Levar ao adoecimento é uma empreitada que conta com vários fatores: falta de empregados, sobrecarga, pressão, péssimas condições de trabalho. E claro que o resultado é a destruição da saúde física e mental dos trabalhadores.

Na Caixa, só em 2014, ocorreram 681 afastamentos devido a transtornos mentais e outros 558 por distúrbios osteomusculares (LER/Dort), segundo o Anuário Estatístico da Previdência Social de 2014.

No mesmo período contaram-se 1.188 desligamentos de postos de trabalho em razão de programa de apoio à aposentadoria.

Levando em conta a extinção de postos de trabalho ocorridas de 2014 até agora, somados aos dois Programas de Desligamento Voluntário Extraordinário (PDVEs) de 2017, o número aumentou consideravelmente.

Não são raros relatos de empregados trabalhando à base de remédios. Pesquisas acadêmicas demonstram que os casos de transtornos mentais entre bancários vêm se agravando e estão vinculados à (des)organização do trabalho. A categoria figura entre os ramos de atividade com o mais alto índice de acidentes do trabalho do país: de 2012 a 2016 foram 20.414 afastamentos de acordo com o Ministério Público do Trabalho.

“A rotatividade e a cobrança são altas, todos os comissionados estão com medo de perder função, estamos com a faca no pescoço. Até o pessoal mais novo está desanimado. Estamos sem perspectiva e com os rumores de privatização ficamos desmotivados e com mais medo. Tem áreas deixando de existir, daqui a pouco nem agência vai existir mais, será tudo digital, não temos para onde correr”, conta um empregado.

Este é o cenário ideal para o esgotamento físico (como as famosas “tendinites”) e mental (depressão, transtornos de ansiedade). Problemas psiquiátricos causados pelo estresse, frequentemente, acarretam outras doenças, como enxaqueca e gastrite.

Para piorar o quadro, o plano de saúde do banco tem sofrido sérias ameaças. No final de julho, foi revelada a intenção do governo Temer de mudar a forma de custeio dos planos de saúde de trabalhadores de empresas estatais, como a Caixa, impondo mais custos aos empregados.

As propostas constam em duas resoluções não oficiais da Comissão Interministerial de Governança Corporativa e de Administração de Participações Societárias da União (CGPAR), órgão vinculado ao Ministério do Planejamento. Na prática, as mudanças inviabilizam o Saúde Caixa e outros planos de empresas públicas federais.

Ou seja, os empregados, cada vez mais adoecidos, ainda terão dificuldades para receber o devido tratamento.

>> Leia e assista aos vídeos de todas as matérias da série: 1. Governo retoma projeto dos anos 90 e prepara banco para privatização, 2. Governo não quer melhorar as condições de trabalho na Caixa, 3. Esteja convencido de que metas abusivas são práticas de mercado, 4. É normal que os empregados fiquem doentes, esgotados e estressados, 5. Pode acreditar, terceirização é algo positivo para você!, 6. É certo que o processo de verticalização jamais irá atingi-lo, 7. Reforma trabalhista não irá impactar nos direitos dos empregados da Caixa e 8. Onde o governo quer chegar com o processo de desmonte do banco

 

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