Um investimento deficitário da Funcef despertou o interesse de um grande fundo internacional. Recentemente, saiu nos jornais a notícia de que os sócios da Invepar analisam proposta do fundo soberano de Abu Dhabi, Mubadala Development Company. Em troca de 51% da empresa, o fundo pagaria cerca de R$ 2,5 bilhões, incluindo parte equivalente a 8% das ações da Funcef e da Petros, que detém cada uma 25%, da Previ, que tem 25,4%, somando-se ainda os 24,4% da OAS. A negociação pode dar novo rumo a um dos investimentos com maior impacto no deficit da Funcef, mas em que medida essa operação poderá ser boa para os participantes do fundo de pensão do pessoal da Caixa?

Em comunicado, a Invepar alegou desconhecer qualquer negociação de venda ou troca do controle acionário. Por meio de sua assessoria de imprensa, a OAS confirmou que reuniões com os fundos de pensão já foram realizadas. O Mubadala já havia feito uma oferta às fundações por 40% da Invepar, mas segundo o Valor Econômico apurou, os próprios acionistas pediram uma proposta pelo controle.

Situação atual da Invepar

Uma eventual troca de controle com aporte pode ajudar a Invepar a recobrar o equilíbrio financeiro, já que os fundos de pensão pararam de colocar dinheiro no negócio e a OAS entrou em recuperação judicial após a crise iniciada com o envolvimento na operação Lava Jato. Em março, a dívida líquida da empresa somava R$ 7,6 bilhões, quatro vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês). Em 2016, a receita da Invepar foi de R$ 3,47 bilhões, com prejuízo de R$ 222,5 milhões.

Um negócio das arábias?

Se confirmadas as estimativas da imprensa, o controle da Invepar poderá ser vendido pelo equivalente a 73% da receita do último exercício da empresa, que vem de uma trajetória crítica nos últimos anos. Aparentemente, sairia barato e a pechincha poderá ser ainda maior se o Mubadala conseguir renegociar o valor da outorga do Aeroporto de Guarulhos – taxa anual que se paga ao Estado pelo direito de uso da estrutura –, que se tornou caro demais ante o faturamento da concessionária.

“Um fundo desse porte não teria interesse na Invepar se não enxergasse potencial no negócio, que hoje está mal mas pode se recuperar. Precisamos estar atentos porque, num momento crítico como este, investidores podem arrematar o controle da empresa por uma bagatela”, alerta o presidente da Fenae, Jair Pedro Ferreira.

E para a Funcef?

Um dos questionamentos feitos pela Federação que representa o pessoal da Caixa é sobre a postura que a Funcef adotará. “Se a Fundação classifica o investimento como ruim, porque permanecer nele? Se enxerga potencial, vai vender ações e ceder o controle a um novo investidor? Afinal, qual a posição da Funcef?”, questiona a presidente da Fenae.

De todo modo, a venda das ações da Invepar no momento em que e empresa se encontra desvalorizada significaria realizar uma perda que, até o momento, ainda é somente contábil, portanto, passível de reversão. “Esperamos que a Fundação avalie todos esses riscos para realizarmos um prejuízo que ainda possa ser evitado”, observa Ferreira.

Centenas de acionistas podem aterrissar na Invepar

As informações disponíveis indicam que a proposta está condicionada ao fechamento de um acordo entre o Mubadala e as centenas de empresas e pessoas físicas que constam da lista de credores da OAS, e que receberão as ações de participação na Invepar como parte do plano de recuperação judicial. A transferência, que estava suspensa por uma liminar, foi liberada no dia 9 de junho, mas as tratativas não foram retomadas.

Criado em 2002, o Mubadala tem vários negócios no Brasil, todos herdados do investimento de US$ 2 bilhões colocado em 2012 no grupo EBX, de Eike Batista. Com a crise do grupo de Eike, o fundo de Abu Dhabi recebeu participações em várias empresas e projetos da EBX.

São cotados também como possíveis compradores de ações da Invepar o grupo italiano Atlantia e a brasileira CCR.

Impacto no deficit da Funcef

Do total de R$ 7 bilhões de deficit a equacionar em 2015 nos planos da Funcef, a Invepar responde por R$ 541,2 milhões. No REG/Replan Saldado, com deficit a equacionar próximo a R$ 6 bilhões, o impacto da Invepar representa R$ 493,4 milhões ou 8,2% da conta. No Não Saldado, cujo deficit a equacionar é de aproximadamente R$ 1 bilhão, o impacto chega a R$ 47,9 milhões ou 4,7%. No REB, a perda contábil registrada foi de R$ 16,3 milhões, e no Novo Plano, R$ 55,4 milhões.

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